03 outubro 2008

A INTOLERÂNCIA

"E que os tenhais em grande estima e amor por causa da sua obra".
-Paulo. (I TESSALONICENSES, 5:13).

O apóstolo dos gentios não poderia ter sido mais atual em suas afirmações. Ao exortar os tessalonicenses sobre a importância da fraternidade verdadeira, convidava a enxergar em cada um o que ele faz de melhor, a respeitar e amar as pessoas pelo que elas fazem dentro do plano traçado pelo Cristo e não dentro da nossa ótica distorcida.
Na verdade, essa advertência deve ser estendida a todos os setores da nossa vida, na família, no trabalho, na amizade, e na religião. Emannuel no livro fonte viva, capítulo 24, discorre sobre essa lição de forma brilhante. Realmente é muito mais fácil dedicarmos nossa amizade àqueles que concordam conosco, porém talvez essa não seja a maneira mais efetiva para o nosso crescimento espiritual.
A ótica reencanacionista nos mostra que vivemos entre aqueles que podem nos oferecer a melhor oportunidade de evolução, mesmo que aparentemente pareça ser diferente. A filha rebelde pode ser justamente a companheira do passado que abandonamos. O filho com doença incurável no plano físico pode ser o irmão que induzimos ao suicídio. Toda dificuldade tem raízes profundas em atos anteriores e não devem ser encarados como acaso, mas como uma organizada tentativa dos planos superiores em nos mostrar o que necessitamos.
A medida em que vamos formando nossas opiniões sobre questões importantes, vamos criando uma espécie de bolha de isolamento, onde passamos a nem sequer avaliar a opinião alheia, de tão certo nos julgamos. Isso nos coloca em uma zona de conforto, onde aparentemente somos auto suficientes e tudo pode ser equacionado com nosso ponto de vista. É cômodo, mas pode ser perigoso, pois nos tira a capacidade de deixar aberta a porta para questionamentos e mudanças.
O problema fica pior quando passamos a ser hostis, ou desrespeitosos com pontos de vista diferentes. Infelizmente esse é um problema comum entre espíritas. Somos os herdeiros intelectuais dos hebreus. Julgamo-nos portadores da verdade mais completa que há na terra e passamos a desprezar qualquer ponto de vista em contrário, mesmo que Kardec tenha exortado o contrário, e nunca tenha fechado questão sobre o fim dos ensinamentos que seriam naturalmente enviados pela espiriualidade maior, uma vez que o mundo necessita continuar evoluindo em todos os aspectos.
Olhando por esse ângulo fica fácil entender que toda intolerância com o próximo baseada em discordância de opinião é insensata. Isso não significa não ter opinião formada sobre as questões que nos são importantes, mas simplesmente observar de forma isenta e tentar aprender, ou pelo menos exercitar nossa paciência e tolerancia.
Cada um segue na vida dentro do melhor que pode. Raríssimas hoje são as pessoas que de alguma forma não procuram estar conscientes, não buscam a reforma íntima, a melhora de seu estado emocional, a estabilidade das emoções, etc... Cada um segue por uma estrada que evidentemente tem um fim em comum, mas poderemos demorar a nos encontrar no fim, e nem porisso os que pensam diferente desmerecem nosso apoio.
Paulo é categórico em afirmar que todos os lutam por uma vida melhor e atuam de forma a implantar o evangelho na terra merecem nosso amor e grande estima. Não fala se a pessoa é da nossa religião, ou mesmo se tem uma religião. O que importa são as obras. Devemos realmente fazer um esforço nesse sentido, pois os principais beneficiados seremos nós mesmos.
Não há sentido em conviver somente com quem reza na nossa cartilha, e descatar opiniões em contrário. Na história da medicina vemos que muitas formas de cura, cirurgias, medicamentos, tiveram sua implantação adiada somente porque contrariava interesses nem sempre humanitários. Fazemos isso em nossas vidas diariamente. Por não abrir mão de velhos conceitos mantemos nossas relações desgatadas e infelizes, não abrimos nossa mente nem o coração para pessoas que aparentemente divergem dos nossos pontos de vista, mas que um exame mais minucioso mostraria se tratarem de trabalhadores do Cristo que agem por caminhos diferentes daqueles que elegemos.
A intolerância nos atrapalha em todos os aspectos. Retarda nosso crescimento, adia possibilidades maravilhosas de sanarmos nossas deficiências e conhecermos pessoas interessantes que poderiam nos ajudar muito. É hora de abrir o coração para mudanças, para o diferente, para o contraditório, com respeito e sabedoria.
Que a paz de Jesus nos abrace a todos.