19 maio 2009

DOENÇAS CRÔNICAS E O CONHECIMENTO DA CAUSA A LUZ DO ESPIRITISMO - DR. VITOR RONALDO

Expressivo contingente populacional alimenta a idéia de que a existência terrena não passa de um simples fruto do acaso. Tal postura habitualmente sustentada pelos materialistas, chega a ser compartilhada pelos adeptos das religiões dogmáticas nada receptivos às leis cósmicas responsáveis pelo processo de evolução integral dos humanos. De acordo com esse ponto de vista, a questão da saúde e da doença parece não ter nenhuma relação de causa e efeito com os impulsos ordenadores do espírito. No entanto, a energética comandada pela alma repercute, sim, no campo físico, ora estimulando a saúde ora predispondo o organismo ao desenvolvimento de enfermidades expiatórias de acordo com os impositivos traçados pela lei de causa e efeito.
Certa feita, o espírito André Luiz visitou um departamento especializado no planejamento de reencarnações da cidade astral de Nosso Lar e após, acuradas observações no campo das chamadas enfermidades cármicas assim se expressou:

“... E, durante alguns dias, ali permaneci na instituição benemérita, compreendendo que a existência humana não é um ato acidental e que, no plano da ordem divina, a justiça exerce o seu ministério, todos os dias, obedecendo ao alto desígnio que manda ministrar os dons da vida ‘a cada um por suas obras’.” (André Luiz e Fco. C. Xavier. Missionários da Luz 9ª ed, Rio de Janeiro, FEB, 1973, pág. 178).

De fato, o desconhecimento das leis de reencarnação e de causa e efeito impede qualquer tipo de raciocínio mais elaborado sobre os “por quês” da vida, o que se constitui motivo suficiente para que, diante da dor, uns alimentem revolta e outros agridam a divindade, alegando abandono e descriminação.
A reencarnação, além de ser uma luz a disseminar claridade sobre as milenares inquirições filosóficas (quem sou, de onde vim e para onde vou), também serve para ampliar a compreensão e o raciocínio daqueles que integram os quadros de uma nova geração de servidores da saúde, convictos das existências sucessivas e, por conseguinte, capazes de conciliar extensa gama de enfermidades crônicas com os imperativos da lei de ação e reação.
O espírito dotado de certo grau de esclarecimento, quando ainda em labor regenerativo no mundo astral, antes de reencarnar, costuma ser convidado a participar do estudo e confecção de seu futuro mapa de provações. André Luiz, em certa ocasião, foi testemunha de semelhante operação transcendental e nos transmite interessante informação passada pelo seu orientador no decorrer daquelas observações específicas:

“Aqui temos o projeto de futura reencarnação dum amigo meu. Não observa certos pontos escuros, desde o cólon descendente à alça sigmóide? Isso indica que ele sofrerá uma úlcera de importância, nessa região, logo que chegue à maioridade física. Trata-se porém de escolha dele.” (André Luiz e Fco. C. Xavier. Missionários da Luz 9ª ed, Rio de Janeiro, FEB, 1973, pág. 177).

A notícia causou ao ex-médico terreno, verdadeira surpresa, seguida de indisfarçável curiosidade. Nesse ponto o mentor apressou-se em esclarecer o motivo da ocorrência:

“Esse amigo, faz mais de cem anos, cometeu revoltante crime, assassinando um pobre homem a facadas ...” (André Luiz e Fco. C. Xavier. Missionários da Luz 9ª ed, Rio de Janeiro, FEB, 1973, pág. 177).

Pois bem. Ao analisar a questão da doença crônica pelo prisma espirítico, o estudioso da doutrina sente-se autorizado a admitir a hipótese da sujeição do ser aos mecanismos impositivos de uma condicionante educativa ou cármica, única maneira de entender a verdadeira causa da patologia complexa.
Certas enfermidades duradouras, apesar de tratadas com remédios caros e modernos, não regridem totalmente por uma razão simples de ser entendida: a terapêutica de eleição visa o alívio do sentimento de culpa que atormenta a consciência espiritual e não a cura do arcabouço físico. São casos passíveis de resgate apenas pelo pagamento da “moeda” corrente nos planos infinitos tutelados pela divindade: o amor incondicional. Sem dúvida, um detalhe estranho à ciência comum, mas que se tornará conhecido como expressão coerente de indenização dos males infligidos a si ou ao próximo.
Outra discordância religiosa em torno do sofrimento crônico também precisa ser dirimida: a que afirma ser Deus o responsável pela manifestação da miséria humana. Ora, Deus jamais castiga a quem quer que seja, pois Ele simboliza o amor absoluto na mais pura acepção do termo. O Pai Maior exprime sempre a bondade, a compaixão e a misericórdia perenes. O conhecimento de causa espírita repele a interpretação errônea das mazelas humanas e confere ao próprio transgressor das leis criadas por Deus, a responsabilidade pelas tragédias enfermiças que enfrenta.
A enfermidade crônica, portanto, de acordo com o ponto de vista doutrinário decorre de um estado íntimo de desarmonia temporária entre as instâncias profundas do psiquismo e a lei de harmonia universal. Nos planos espirituais, a alma que se admite em débito, após atingir certo estágio de compreensão, quase sempre solicita uma ou outra restrição orgânica com o intuito de valorizar a própria programação “auto-educativa” a ser efetivada no decorrer da próxima existência terrena. Digamos que a doença pertinaz passe a se comportar como um instrumento saneador de resgate, providencial artifício capaz de manter viva na memória a necessidade inadiável de enfrentar o sofrimento, valendo-se da prática indistinta das exortações evangélicas de Jesus.
Toda condição de sofrimento físico demorado aponta para o esforço de recuperação moral a ser levado em conta pelo espírito faltoso; por isso, se ele, o sofrimento, por um motivo qualquer desaparecesse antes do tempo adequado, a criatura se esqueceria de seus bons propósitos e, por insuficiência evolutiva, voltaria a incidir nos erros de outrora. Convenhamos que na ordem divina existe um tempo estipulado para tudo. Além disso, o tipo e a quantidade de sofrimento crônico mantêm uma relação justa com a falta cometida, sem extrapolar jamais os limites das forças humanas, muito pelo contrário. Graças à misericórdia de Deus, inúmeros atenuantes poderão ser levados em conta.

— Segundo observamos, a justiça se cumpre sempre, mas, logo que se disponha o Espírito à precisa transformação no Senhor, atenua-se o rigorismo do processo redentor. O próprio Pedro nos lembrou, há muitos séculos, que o amor cobre a multidão de pecados”. (André Luiz e Fco. C. Xavier. Missionários da Luz 9ª ed, Rio de Janeiro, FEB, 1973, pág. 178).

Eis a sentença de alívio proclamada pelos maiores da espiritualidade.
Conquanto a dívida moral permaneça registrada na memória integral do ser, isto não significa que o indivíduo esteja submetido infalivelmente a um destino fixado, a um carma inamovível, a um predeterminismo inflexível diante da contingência expiatória.
O enfrentamento da dor no plano terreno constitui significativo desafio ao espírito endividado, condição, porém, passível de ser atenuada, quando se persevera no bem. A insistência na maldade é que nos complica a redenção almejada, pois cronifica a dívida moral e dificulta ainda mais o resgate no decorrer das futuras encarnações.
O conhecimento de causa fundamentado no evangelho do Mestre e, nos ensinamentos espíritas, estimula o trabalho reparador e, este, por sua vez, constitui-se precioso atenuante do sofrimento.

“(...)quando o interessado em experiências novas no plano da Crosta é merecedor de serviços “intercessórios”, as forças mais elevadas podem imprimir certas modificações à matéria, desde as atividades embriológicas, determinando alterações favoráveis ao trabalho de redenção.” (André Luiz e Fco. C. Xavier. Missionários da Luz 9ª ed, Rio de Janeiro, FEB, 1973, pág. 178).

O Mundo Maior não se mostra indiferente ao sofrimento dos que resgatam os débitos vergonhosos do passado. O envolvimento fraternal dos bons espíritos serve de valoroso auxílio aos esforços dispensados em prol da recuperação individual. Qualquer ato de dignidade é contabilizado em favor da criatura em luta retificadora. O que se visa é o bem, o progresso e não o sofrimento. As atitudes dignas e conciliadoras por parte do indivíduo em provação, repercutem de forma favorável no seu quadro provacional, minimizando os efeitos e reduzindo as dores impostas pela doença crônica.

“Todo plano traçado na Esfera Superior tem por objetivos fundamentais o bem e a ascensão, e toda alma que reencarna no círculo da Crosta, ainda aquela que se encontre em condições aparentemente desesperadoras, tem recursos para melhorar sempre.” (André Luiz e Fco. C. Xavier. Missionários da Luz 9ª ed, Rio de Janeiro, FEB, 1973, pág. 228).

Em face dos comentários somos levados a crer que ninguém adoece por uma causa injusta, mas porque merece. De nossa parte aceitamos a enfermidade crônica na condição de “fator educativo” indispensável aos anseios renovadores da alma em ascensão. Não olvidar que, em muitas ocasiões, a enfermidade que macera a carne transitória foi escolhida pelo próprio espírito endividado em comum acordo com os “espíritos construtores”, prestimosos tarefeiros do bem integrados aos departamentos preparatórios das reencarnações. Invariavelmente, tais espíritos intercedem pelos seus tutelados, prescrevendo com sabedoria a carga expiatória a ser expurgada pela carne, tudo com vistas ao ressarcimento do passado culposo e o conseqüente avanço na senda do progresso espiritual.
É impositivo acabar de uma vez por toda com a mania de referenciar as experiências pungentes como um karma insuportável, uma cruz difícil de ser transportada, quando em verdade, a misericórdia do Alto, presente no auxílio dispensado pelos bons espíritos, sempre se manifesta em prol dos mais sofridos. Só os recalcitrantes não percebem a conjuração amorável das potências invisíveis em proveito da humanidade imperfeita.


Vitor Ronaldo Costa é médico e autor dos livros - Desobsessão e apometria, enfermidades da alma e a proposta terapeutica espírita, o visitador da saúde entre outros.