21 junho 2014

Um novo ciclo

O céu azul mostrava  as estrelas brilhantes emolduradas pela janela do quarto. O cruzeiro do sul cintilava intenso trazendo memórias distantes.
Os olhos teimavam em se fechar. A sonolência ia tomando conta. O pensamento buscava se agarrar em algo feliz, mas era impressionante como nesses momentos importantes era mais fácil se ligar às coisas não realizadas.
Ele pensava na saudade dos que amava, nas palavras não ditas, nos erros infantis que geraram tantas adversidades. Olhando para trás parecia tão fácil consertar os erros. Os porquês iam se somando na medida em que o tempo se esgotava. E se...
Sabia em seu íntimo que agora era tarde, um outro ciclo se iniciava. A mente já não reagia com a mesma presteza. O lado feliz era que sentia a presença dos mentores ao seu lado. Eles zelavam por ele.
Quantas vezes já havia vivido aquela experiência? Não sabia.
O vento suave entrava pela janela trazendo notícias de longe, apontamentos silenciosos que democraticamente igualavam as pessoas e mostravam que todos somos iguais no imenso e infinito ciclo de vida e renascimento.
Não havia o menor sentido agora nas coisas que a poucos meses eram importantíssimas. O apego, fiel companheiro de derrota, não tinha espaço naquele instante. E se eu tivesse feito diferente – pensava.
As forças acabavam, sentia a lassidão tomar conta de seu corpo, um frio subindo dos pés para a cabeça. Mas paradoxalmente sentia paz e se entregava. Aquela sensação era boa. Um recomeço, um novo ciclo. Uma esperança.
Ao mesmo tempo a dúvida. Como seria recebido na nova vida? Seria feliz? Saberia realizar o plano de Deus em sua vida?
De repente o túnel. Então era assim – pensava. O tão famoso túnel de luz que o levaria dali para a outra vida. Sentiu-se flutuando, num misto de sonho e realidade. Cenas antigas se desenrolavam nas paredes do túnel, pareciam vivas, tinham sons, cheiro, cor, vida. Eram memórias vivas de coisas que deveriam estar mortas e apagadas, mas que não estavam. 
Traziam dor e alegria, força e tristeza, tudo ao mesmo tempo. Mas acima de tudo traziam alívio. Rever era limpar e esvaziar. Isso acarretava consolação.
A luz no fim do túnel estava cada vez mais perto, parecia que o Sol o esperava do lado de lá. Chegava a hora. Ficou cego por instantes, ofuscado pela luz. Quando conseguiu abrir os olhos pode ver sua mãe, que o aconchegava ao peito, tentando amamenta-lo. Enfim havia renascido.