11 maio 2019

Vivenciando o luto


De onde viemos? Para onde vamos? Por que nascemos? Por que sofremos?
As dúvidas são enormes, mas uma certeza é absoluta, todos vamos morrer. Bom, pelo menos no corpo físico. Essa veste material que permite a nossa manifestação inteligente na Terra, um dia vai acabar. Desencarnaremos. 

Perderemos a carne e passaremos a habitar no mundo espiritual. Não falemos mais de morte, mas de passagem. Passagem para um outro plano de vida. Mas acima de tudo, continuidade da vida. Vida plena e em abundância.

Mas esse conhecimento não nos impede de viver completamente voltados para o plano material e seguirmos nossa vida como se nunca fosse chegar esse momento tão importante.


Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.
Um trecho de "Sonhei que tive uma entrevista com Deus", de Jim Brown.

Nascimento e morte. Celebração e dor. Mas precisava mesmo ser assim?
Passamos a vida sem conversar com leveza sobre a nossa passagem para o mundo espiritual e isso vai criando barreiras mentais que tornam o desligamento de entes queridos muito mais sofrido. Levando em conta que vivemos em um País majoritariamente cristão, esse paradoxo é de difícil solução. 

Para o nascimento nos programamos, convidamos pessoas, compramos lembrancinhas que serão distribuídas, recebendo esse espírito que reencarna com alegria e gratidão. Para o momento da passagem temos a dor, o sofrimento e muitas vezes a revolta e a incompreensão. Falar de nascer é vida, dá sorte e traz coisas boas. Falar de morte dá azar, é sorumbático, coisa de gente religiosa fanática.

Um grande problema no luto é que aquilo que plantamos enquanto nossos entes amados ainda estão conosco, colhemos após a partida deles. Ou seja, nunca conversamos sobre a morte, sobre a dor, sobre os desígnios divinos e ao vivenciar o processo de luto, rapidamente aprendemos que após poucos dias do acontecido, restam poucas pessoas, se alguma, que entendem a necessidade de conversar sobre o que está acontecendo.

O enlutado se vê obrigado a silenciar a dor, a colocar a máscara do “está tudo bem” e seguir em frente.
Desde novembro de 2018 iniciamos um novo trabalho na Comunidade Espírita Ramatís. Formamos um grupo de acolhimento terapêutico aos enlutados. Um espaço onde as ideias e sentimentos represados podem ser expressadas sem julgamento e com respeito sigiloso. A experiência tem sido enriquecedora.

Palavras não ditas, atitudes não tomadas, ausência dolorosa, vazio insuportável e outros exemplos, constituem a tônica dos encontros. A oportunidade de acolher essas pessoas é única. Aprendemos e compartilhamos todos juntos.

Mas o ensinamento mais importante é que o luto é um processo que precisa ser vivenciado. Não pode ser negligenciado ou omitido. É importante conversar em família, respeitar a dor do outro, a crença e as dificuldades de cada um. E ir em busca de ajuda profissional quando necessário.
Paz e luz a todos.