29 janeiro 2007

Espiritismo e Esoterismo - Dra Giselle Fachetti



“Não sejamos muito apressados em rejeitar a priori tudo o que não podemos compreender, porque longe estamos de conhecer todas as leis e nem a natureza nos revelou ainda todos os segredos. O mundo invisível é um campo de observação ainda novo, cujas profundezas seria presunção supor exploradas, quando incessantemente se estão patenteando a nossos olhos novas maravilhas". (A. Kardec, OP, Capítulo 2, Parágrafo VII -Dos Homens Duplos - item 9).

Como Espírita eu sempre soube que, além de nós, os cristãos de outras denominações religiosas também são espiritualistas, assim como a maioria das religiões orientais e as originárias da África.

Tenho sempre usado a importância dessa afinidade em debates amistosos com membros de Igrejas Protestantes e Católicas. Estudei bastante a história do Cristianismo e sei quais as semelhanças e diferenças entre a Doutrina Espírita e a Teologia Católica e Protestante.

Sabia da afinidade entre a Doutrina Espírita e as religiões orientais, não só por sermos espiritualistas, mas também por termos, como eles, a certeza da reencarnação como mecanismo de evolução espiritual.

Surpreendi-me com minha ignorância em relação ao significado e a extensão do conhecimento esotérico. Depois de um breve e superficial estudo, que pretendo aprofundar, conclui que estes conhecimentos são tão importantes para os espíritas como o são os conhecimentos científicos atuais e teológicos tradicionais.

Temos explicações fantásticas sobre os mecanismos da mediunidade nas obras de André Luiz, assim como sobre a fisiologia da obsessão e a ação dos espíritos superiores na coordenação do progresso humano na Terra. Os efeitos físicos e espirituais das preces e as conseqüências das leis de ação e reação são dissecados minuciosamente por ele. Outras fontes além da codificação nos fornecem extenso material de estudo e esclarecimento sob a ótica filosófica e científica da Doutrina Espírita.

Tal estudo, por si só, seria suficiente para nos guiar rumo ao progresso espiritual, tão urgente e necessário, assim como o estudo de outras filosofias religiosas também o fazem. Entretanto, o esclarecimento que obtive vasculhando as fontes esotéricas de conhecimento tem sido muito útil, especificamente, em meu desenvolvimento mediúnico. Por isso pretendo redigir um breve resumo desses conceitos.

Místico é uma palavra que tem origem no idioma grego e significa iniciado. Misticismo, por sua vez, pode ser entendido como a busca de Deus através de uma experiência direta, individual, intransferível. Essa experiência pode incluir a crença na existência literal de realidades além da percepção física, transcendentes em relação à compreensão linear e positivista do universo.

Esoterismo (escrito com o s e não com o x) é o nome genérico que designa um conjunto de tradições e interpretações filosóficas das doutrinas e religiões que buscam desvendar seu sentido oculto.

Segundo Blavatsky, criadora da moderna Teosofia, o termo "esotérico" refere-se ao que está "dentro", em oposição ao que está "fora" e que é designado como "exotérico". Designa o significado verdadeiro da doutrina, sua essência, em oposição ao exotérico que é a "vestimenta" da doutrina, sua "decoração". Também segundo Blavatsky, todas as religiões e filosofias concordam em sua essência, diferindo apenas na "vestimenta", pois todas foram inspiradas no que ela chamou de "Religião-Verdade".

Inúmeras correntes filosóficas, tidas como esotéricas, já haviam descrito a complexidade do agregado espiritual (expressão usada por J S Godinho em seu livro Conflitos Conscienciais) humano definido genericamente como corpo físico, perispírito e espírito por Allan Kardec nos livros básicos da Doutrina Espírita.

Assim como me surpreende que pesquisadores renomados na área da paranormalidade nunca incluam as obras de Allan Kardec em sua bibliografia, mesmo quando realizam estudos específicos em relação à mediunidade, surpreendo-me também com o fato de que eu, espírita e estudiosa do assunto há 30 anos, desconhecia ainda tão completamente essas informações tão esclarecedoras.

Desconhecia a anatomia espiritual. Os detalhes estruturais do complexo ser físico, alma e espírito, ou como descreveu Kardec, corpo físico, perispírito e espírito. A fantástica possibilidade de interação do ser não físico com o ser físico através de instrumentos tão impressionantes em sua fisiologia milimetricamente precisa quanto o próprio corpo físico do ser humano.

Portanto, o que estudamos com o nome de corpos espirituais são os complexos instrumentos de que se utiliza o espírito para manifestar-se tanto no plano material quanto nos diversos níveis imateriais.

É infantil crermos que tais instrumentos sejam simples como um lençol jogado sobre o corpo como quando brincávamos de fantasmas, ainda em nossa primeira infância. Tais corpos são mais complexos que o corpo físico do ser humano, inclusive por que serviram de molde para que este fosse formado durante as diversas reencarnações da essência individual, o espírito.

Este conceito é claro por que permite que entendamos o ser humano como um conjunto de corpo físico e corpos espirituais como já há muito entendido pelos esotéricos orientais. O perispírito descrito por Kardec é, portanto, bastante complexo como já frisava André Luiz que mostrava as características de um desses corpos, o Duplo Etérico, no livro evolução em dois mundos.

Cada um dos corpos espirituais tem características próprias e funções específicas. São estudados pela visão direta dos clarividentes, pelo acesso a eles através de indução hipnótica, ou pela meditação profunda e bem treinada. Não são percebidos pelos métodos científicos materiais, pois apesar de serem constituídos de matéria, o são por uma matéria cuja densidade não é captada por nossos sentidos ou máquinas convencionais, pelo menos por enquanto.

A maioria das escolas esotéricas considera o agregado humano como constituído por sete corpos. O corpo físico, o duplo etérico, o corpo astral, o corpo mental inferior, o corpo mental superior, o Corpo Búdico, e o Atma.

O Atma é a nossa essência divina, nosso eu verdadeiro pleno e imortal. É o verdadeiro espírito que se utiliza dos corpos espirituais inferiores para expressar-se. Assim como nós utilizamos de um computador para manifestar nossas opiniões o espírito se utiliza de seus corpos para atuar em seu ambiente.

O computador é dotado de um programa e que ligado a uma impressora e com o recurso da linguagem permite o manifestar de nossa inteligência. O papel, a impressora, o mouse, o programa e o hardware não são nossa inteligência, mas permitem que a manifestemos através de um produto impresso ou virtual e que, assim, atuemos em algum segmento do nosso relacionamento interpessoal.

O Corpo Búdico é a primeira estrutura vibratória que envolvendo o espírito manifesta-o, segundo José Lacerda de Azevedo. É a consciência sintetizadora e foco da individualidade do espírito materializado. O corpo Mental Superior ou Abstrato é o veiculo das manifestações volitivas, da inteligência. O Mental Inferior ou Concreto é a alma das percepções simples, da consciência.

O corpo Astral, corpo mais inferior do espírito, é a alma instintiva e passional, aonde ocorre a transformação da força física em força psíquica. É o organismo das sensações. O Duplo etérico é o coordenador da vitalidade e de sua distribuição a todas as células. A excitação, a irritabilidade, o prana, são coordenados por essa organização fisiológica. Intermediário entre o corpo denso e o plano astral.

O corpo físico é o suporte material do espírito encarnado. Meio que este dispõe para atuar sobre a matéria.

O Atma, o Corpo Búdico e o Corpo Mental Superior formam o ternário superior, o Eu cósmico, a individualidade. O Quaternário inferior é formado pelos demais corpos espirituais e constituem o ego ou a personalidade.

Cada um dos corpos espirituais tem forma, cor e plano vibratório próprio que variam entre si e conforme o grau de evolução do indivíduo.

Os chacras são centros de força, vórtices por onde os dinâmicos campos magnéticos dos corpos espirituais se ligam ao físico. A palavra chacra vem do sânscrito e significa roda e reflete sua forma como observada pelos clarividentes. A sede deles é o Duplo Etérico, mas tem origem em estruturas superiores. Eles captam a energia cósmica que alimentam espiritualmente o ser que está manifestando o fenômeno vida.

Esses órgãos estão sempre em rotação e tem sua atividade aumentada com a evolução espiritual, cada um tem freqüência específica e colorido próprio. Os principais são sete: o básico, esplênico, umbilical, cardíaco, laríngeo, frontal e o coronário.

O primeiro, o básico, localiza-se na base da coluna vertebral, tem coloração avermelhada, é a sede da força vital primária que anima a vida encarnada. O Chacra esplênico, o segundo, é o chacra da vida vegetativa, tem grande importância nos fenômenos mediúnicos de incorporação, tem seu colorido variável.

O terceiro chacra, o umbilical, tem coloração avermelhado esverdeado, está ligado à fisiologia da alma, ao campo das emoções e sentimentos primários, e também ao sistema nervoso. O Chacra cardíaco, o quarto, é dourado brilhante e se liga as emoções superiores, afetos e sentimentos.

O Chacra laríngeo localizado em frente à cartilagem tiroidiana, é prateado brilhante e tem a função de transmitir as idéias por meio da fala. Muito importante na psicofonia. O chacra frontal, entre as sobrancelhas, é o chacra da espiritualidade superior.

O Chacra coronário, no alto da cabeça, tem coloração dos mais diversos matizes, é o chacra que nos conecta com o divino, com a energia Crística, com a espiritualidade superior.

Os plexos são centros energéticos que coincidem com os chacras, mas se relacionam ao sistema nervoso de vida vegetativa: o sistema simpático e parassimpático e centros ganglionares específicos.

A tela búdica é um importante órgão de proteção do corpo físico do homem em relação á influência espiritual deletéria. É uma estrutura de natureza magnética que se situa entre os chacras do corpo astral e etérico.

Assim resumimos alguns conceitos esotéricos elementares. Sabemos que o estudo de cada um desses conceitos e ou estruturas, por si só, ocupariam, se redigidos, um grande volume de uma hipotética enciclopédia esotérica. Entretanto, o inicio da abordagem de uma área de conhecimento deve ser gradual e didático para que elaboremos os conceitos de forma sólida e acessível.

A anatomia espiritual e sua fisiologia, se conhecidas, permitem ao indivíduo que pretende evoluir no caminho da mediunidade um progresso mais célere em um caminho menos turbulento. Se associarmos esses conhecimentos aos codificados por Kardec teremos um sistema poderoso construído em bases sólidas, o amor fraternal, que servirá para o benefício tanto da humanidade encarnada quanto da desencarnada.

A possibilidade do desdobramento espiritual consciente (ou projeção) amplia geometricamente os recursos da terapêutica espiritual em termos de desobsessão e auto-desobsessão. A esse método de desenvolvimento e prática mediúnica fui arrastada pela dor, conforme planos pré-encarnatórios que me retardei em concretizar, e pude, então, experimentar pessoalmente os efeitos dos novos conhecimentos que adquiri.

Assim, surpreendi-me com o acesso que tive a um mundo novo de amigos e protetores que, já antes intuía conviverem comigo e meus afins, mas que agora não só infiro sua existência, mas tenho plena consciência do contato valoroso e benéfico com esse grupo de trabalhadores no bem de forma direta, clara, organizada e constante.

Percebo um grande projeto para o qual os encarnados são convidados, repetidamente, a se unir. Só assim poderão exercer o tão necessário e urgente trabalho em prol da paz humana e do progresso espiritual individual redundando na realização de nossa expectativa cristã de transformação da terra em um orbe regenerativo. Seria nossa contribuição para a construção do paraíso terreno onde as nossas comunidades refletirão a alegria do esforço coletivo e harmônico rumo à redenção espiritual.

Os grupos que se formam com este objetivo devem procurar o conhecimento que liberta sem deterem-se diante das fronteiras das tradições e dogmas religiosos, mas ultrapassando-os de forma corajosa e reverente para ajuntarem todo um cabedal de conhecimentos há muito revelados, mas que aguardam por sua integração nas práticas religiosas, e de socorro, em todos os grupos de trabalhadores do Cristo já existentes sob as mais diversas denominações.

Cabe a nós Espíritas sermos os primeiros a nos despirmos de preconceitos arraigados para darmos um novo salto vibratório em direção à evolução coletiva. Sejamos como Kardec foi, abertos a novos conhecimentos, porém críticos e estudiosos. Somente assim honraremos nosso Mestre persistindo em seu caminho de descobertas e respeito à diversidade.

Essa forma de agir e sentir eu encontrei no grupo em que fui carinhosamente tratada e depois acolhida como uma trabalhadora da última hora e que sinto-me compelida a agradecer publicamente: A Comunidade Espírita Ramatis e seus dedicados membros. Agradeço profundamente a todos vocês pela ampliação da minha capacidade de ver e ouvir.

Giselle Fachetti Machado

7 comentários:

Anônimo disse...

Giselle, similarmente, sempre tive a tendência de buscar o ecletismo e o universalismo, no sentido de que o conhecimento humano está fragmentado em várias ciências, doutrinas, filosofias e religiões. Nada e ninguém detém a completude, nem a verdade absoluta. Isso seria ilógico e nada conivente com a Sabedoria Divina. O conhecimento, buscado, analisado, filtrado e absorvido, sem dógmas e sem preconceitos, é evolução pura. Parabéns e obrigado pelo artigo.
Hélcio José.

Anônimo disse...

Giselle, similarmente, sempre tive a tendência de buscar o ecletismo e o universalismo, no sentido de que o conhecimento humano está fragmentado em várias ciências, doutrinas, filosofias e religiões. Nada e ninguém detém a completude, nem a verdade absoluta. Isso seria ilógico e nada conivente com a Sabedoria Divina. O conhecimento, buscado, analisado, filtrado e absorvido, sem dógmas e sem preconceitos, é evolução pura. Parabéns e obrigado pelo artigo.
Hélcio José.

Anônimo disse...

Olá Irmã, simplesmente não tenho palavras para expressar o que senti lendo seu artigo.

Seja Feliz!!!

Espedito Júnior

Anônimo disse...

Excelente artigo, Giselle. Parabéns!

Se todos os espíritas tivessem essa visão, o Espiritismo não teria se transformado nessa religião ortodoxa, bem diferene daquilo que pretendia Kardec.

Abraço

Maísa Intelisano

Antonio B Duarte Jr disse...

Gosto muito dos artigos de ótima qualidade do seu Blog. Quando for possível dá uma passadinha para ver minha página sobre esoterismo. Antonio B Duarte Jr.

Luiz Mendes disse...

Gisele fiquei muito feliz ao ler o seu artigo. Visto que sempre pensei no conhecimento universal como balisador da verdade e do crescimento espiritual rumo a integridade total.O ortodoxismo dentro de alguns centros espiritas vem afastando muitos irmãos com sede de luz e conhecimento.Tal é o conservadorismo de alguns irmãos nossos. Mas tudo a seu tempo...Abraço fraterno....Luiz

Marcos disse...

Parabens pela visão que expressa so-
bre espiritualidade e esoterismo,este
é o verdadeiro sentimento que todos espiritas deveriam ter.