05 março 2007

AUTOCONHECIMENTO - Dra WÂNIA RIBEIRO


As causas de nossos problemas, muitas vezes estão muito mais profundas do que imaginamos. Mas a nossa tendência é de querermos resolver tudo, no imediatismo, sem refletirmos sobre os fatos.

As aparências parecem lógicas, e o nosso raciocínio tende sempre a nos defender, pois às vezes é muito difícil sairmos do nosso ego, da nossa razão, que insistem em nos dizer que estamos certos, dessa forma, o que está inconsciente em nós nos parece sempre correto. A verdade é que muitas vezes ignoramos as causas que nos levam a agir de determinadas maneiras, sendo assim, não vemos motivos para modificarmos.

“Tudo que experimentamos, não desaparece da psique,” termo utilizado por Yung para definir a personalidade como um todo, da mesma forma que exemplifica no seu pensamento: “Nada que foi vivenciado por nós deixa de existir” assim sendo questões não resolvidas do nosso passado, ficam armazenadas no inconsciente e vez por outra elas persistem em retornar à nossa consciência.

É como se fosse uma bóia na água, a qual tenta afundar, e quando cansamos volta à tona, nos exigindo novos esforços para afundá-la. Sem percebermos ficamos repetindo os nossos problemas do passado. Quando menos os esperamos, ressurgem nos apontando que algo não está bem.

Como trazemos experiências de vidas passadas, carregamos também bagagens mal resolvidas de um passado longínquo, porém bem guardado, que podem ter sido geradoras de conflitos e traumas no presente, e nos apresentam como fobias, inseguranças e medos aparentemente descabidos e irreais.

Entretanto ao aprofundarmos no nosso inconsciente, provavelmente nos depararemos com as reais circunstâncias desencadeadoras de nossas dificuldades, nos mostrando a necessidade de desligamento de idéias e convicções que ficaram para trás. Quando desvencilhamos das amarras que nos prendem aos nossos sofrimentos, podemos detectar novos significados para os fatos e adquirir novos conceitos que necessitamos na nossa atual existência, nos libertando de padrões rígidos de comportamentos que trazemos de outrora. Como nosso inconsciente age sobre a nossa conduta, muitas vezes não as entendemos diante de alguns fatos que nos parecem importantes.

Ainda crianças, nós aprendemos a agir de formas diferentes, com a finalidade de obter alguma coisa que nos parece importante. Em determinadas situações somos “bonzinhos”, em outras mostramos “tranqüilidade” e em outras somos birrentos, “poderosos”. A esses comportamentos, damos o nome de máscaras.

Tais atitudes são na realidade mecanismos de defesas que utilizamos para nos sentirmos amados e aceitos pelos outros. Conforme seja a reação daqueles que convivemos, vamos sendo reforçados ou não na nossa maneira de agir. Daí em diante aprendemos a utilizar as máscaras para a nossa “sobrevivência psicológica”.

Portanto, elas se tornam úteis na nossa vida. Faz nos parecer educados, benevolentes, compreensíveis, quando na verdade, a nossa vontade seria outra. Sendo assim, não estaríamos sendo verdadeiros.

Segundo um dos princípios éticos da Yoga a partir do momento em que aprendermos a entender as nossas ações, reações e sentimentos diante dos fatos, teremos novas opções de escolhas decorrentes de um novo aprendizado.

A nossa percepção e conscientização deste processo, não nasce de um dia para o outro. É um trabalho constante, o qual muitas vezes nós mesmos, nos boicotamos, através do nosso eu inferior, pois, enquanto não reconhecermos como ele funciona e se revela, não seremos capazes de dominá-lo, por isso, nem sempre é fácil mudar os nossos hábitos como também aceitar certas verdades.

Às vezes é preciso que a verdade seja buscada em doses “homeopáticas”, de acordo com a estrutura psicológica de cada um. Mas é necessário que a encontremos.

O maior Terapeuta e psicólogo que pisou no Orbe terrestre, Jesus Cristo, já dizia para conhecermos a verdade, pois ela nos libertaria. Na maioria das vezes nós ainda desconhecemos os nossos próprios defeitos e qualidades, predicados aparentemente simples do nosso cotidiano.

Portanto, devemos começar de alguma forma, a nos conhecer. Examinar as nossas atitudes em relação aos outros. Não projetar os nossos defeitos, os quais não aceitamos em nós mesmos, procurar identificar alguns padrões de comportamento (atitudes que repetimos continuamente) iniciando dessa forma a nossa cura pelo processo da auto-análise.

Outra maneira seria nos perguntar, qual o nosso objetivo aqui na Terra. Será que queremos buscar aprendizado, rever conceitos, assumir nossas deficiências, quebrando o nosso orgulho... Se a resposta for positiva, estaremos caminhando no rumo certo, se não, estaremos perdendo o nosso tempo, atrasando a nossa caminhada evolutiva e consequentemente a nossa própria qualidade de vida (Lei de ação e reação).

Quando tivermos dúvidas a respeito de nossas ações, é importante trocarmos de papéis e tentar sentir como seria estar no lugar do outro, sendo nós mesmos nosso próprio juiz.

No mundo em que vivemos, rodeado de informações, de violência, más notícias, conceitos diversificados, terminamos por nos envolver no turbilhão dos acontecimentos e dos modismos. Por isso é preciso fazer uma seleção de valores, dentro do bom senso, da ética e da moral para nos identificarmos, não recorrendo em erros, os quais provavelmente já os cometemos no pretérito.

Ao fazermos assim, estaremos dirigindo a nossa própria vida, pois refletir sobre os nossos reais desejos, nos coloca diante do nosso verdadeiro Projeto Divino, aquele traçado no Mundo Maior.

O Espiritismo vem nos mostrar com clareza, os motivos de nossos sofrimentos e percalços da vida, nos dando noção de como prosseguir.

A psicoterapia vem nos ajudar nesse processo, nos colocando diante de nossas dores, mas nos amadurecendo e nos tornando conscientes, para que nós mesmos possamos tomar as nossas próprias atitudes. Às vezes precisamos de uma pessoa habilitada para nos ajudar nesse processo e identificar mecanismos que não estão ao nosso alcance.

De acordo com Joana de Angelis “A psicologia da religião começa na análise dos recursos de cada um: sua fé, sua dedicação, seus interesses espirituais, suas buscas e fugas, seus medos e conflitos”.

Seria sensato de nossa parte, não deixarmos de resolver aquilo que nos incomoda hoje, jogando a “sujeira para debaixo do tapete”, esperar que um “milagre” aconteça e resolva tudo para nós, ou fugindo para estados depressivos, procedimentos doentios ou afogando-nos em mágoas, complicando ainda mais a nossa posição. Vamos encarar as nossas dificuldades, hoje e agora, para que no futuro, não precisemos buscar respostas no nosso passado.

Todavia, procuremos enxergar também, o nosso lado otimista, positivo e nos agraciar com as nossas qualidades, nos presentear com a alegria de nossos esforços na caminhada evolutiva.

Joana de Angelis frisa que “infelizmente o desconhecimento das nossas potencialidades é que nos impede de movimentarmos para a realização”. Considero que as nossas realizações dependem muito dos nossos pensamentos e das nossas atitudes, assim como nossos relacionamentos são reflexos de nossas ações.

Um grande número de pessoas costuma priorizar o “seu lado negativo”, contribuindo para uma baixa auto-estima, e complexos de inferioridade.

Deste modo, o conhecimento de nós mesmos, depende do nosso próprio esforço no caminho da evolução e do crescimento.

Segundo Dr. Marcelo, componente da equipe espiritual que assiste nossa casa, Centro Espírita Renascer, este ano de 2007, será o “Ano do autoconhecimento.” Acredito que se dedicarmos um pouco mais à reflexão e análise dos nossos atos no final do dia, já estaremos iniciando a nossa conquista. Faço votos que possamos caminhar juntos nesta tarefa, indo de encontro ao nosso verdadeiro eu, sendo este um dos nossos maiores desafios.

“Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.

E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos

e coloca-los-ei no lugar dos meus;

E arrancarei meus olhos

para colocá-los no lugar dos teus:

Então ver-te-ei com os teus olhos

E tu ver-me-ás com os meus”.

( J. L. Moreno, publicado em Viena,1914)

Muita paz a todos!

Wânia Ribeiro

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