02 abril 2007

A RAZÃO DA REVELAÇÃO ESPIRITUAL - Giselle Fachetti





A revelação dos mistérios espirituais sempre existiu, em todos os tempos e civilizações, através da mediunidade, talento este que tomou os mais diversos nomes de acordo com o conhecimento, preconceitos e limitações das comunidades em que se manifestava.

Os profetas, videntes, feiticeiras e pitonisas tinham em comum a possibilidade de entrar em contato com o mundo invisível. Esse dom, de base meramente orgânica, foi distribuído amplamente entre os filhos de Deus. Os sábios, os éticos, os sensíveis podem ter entre suas habilidades naturais a mediunidade. Os brutos, mesquinhos e venais também podem ser agraciados com essa capacidade.

Conforme a condição vibratória do instrumento mediúnico, ou médium, sintonizam-se com ele os seus semelhantes. Assim se um médium cultiva hábitos e pensamentos salutares ele se porá em contato com espíritos mais elevados. Caso o instrumento se dedique práticas imorais e antiéticas ele será conectado a entidades de padrões vibratórios mais baixos.

O contato com o invisível, por si só, nos prova a sobrevivência do princípio inteligente à morte do corpo físico. Isso já é motivo suficiente para que repensemos nosso destino como seres eternos.

Entretanto, o conteúdo das revelações, ou comunicações, tem maior importância do que a sua simples possibilidade como evento natural. No livro mediúnico mais divulgado no planeta, a Bíblia, encontramos a advertência do apostolo João para que verifiquemos a origem das revelações, se são realmente provindas de um servo de Deus, espírito elevado, ou não. Somente a análise crítica do conteúdo da comunicação nos dará essa resposta.

Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus,

porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.

João I: 4, 1a 3.

E essa responsabilidade de análise é nossa atribuição. Isso se deve ao fato de que nenhuma conquista tem valor se não for obtida com o esforço pessoal. É a questão do mérito. Do fazer por merecer. Para sermos dignos de uma revelação de grande significado, temos que valorizá-la com nosso esforço e empenho no estudo metódico e racional. Sermos, portanto, dignos da ajuda que recebemos.

Por isso, a espiritualidade não fará nosso trabalho, não nos oferecerá respostas prontas e nem soluções mágicas. Essa plêiade de espíritos abençoados, conhecida em algumas denominações religiosas como Espírito Santo (um espírito santo, entre muitos, conforme as traduções mais fiéis), nos revelará o necessário para que prossigamos na investigação amorosa sobre os conhecimentos necessários para nosso progresso espiritual como coletividade harmônica, que somos, apesar de nossa diversidade. Não só o que necessitamos nos será revelado, mas aquilo que somos capazes de suportar. Nada de útil teria uma revelação superior à nossa capacidade de entendimento. É como dar pérolas aos porcos.

Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas,

não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.

Mateus; 7, 6.

Vejamos um exemplo simples, porém contundente. Ao estudarmos a Bíblia a encontramos recheada de jóias da mais profunda sabedoria, de normas éticas que nos conduzem ao sucesso e á realização, de princípios morais indiscutíveis e sempre atuais. E desse livro tido como sagrado e de grande valor histórico retiramos os versículos abaixo:

Agora, pois, matai todo o homem entre as crianças,

e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele.

Porém, todas as meninas que não conheceram algum homem,

deitando-se com ele, deixai-as viver para vós.

Números 31: 17, 18.

Compare com o seguinte:

O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso;

o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.

Não se porta com indecência, não busca os seus interesses,

não se irrita, não suspeita mal;

Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;

Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

I Coríntios 13: 4, 7.

Seria o autor espiritual dos diferentes textos o mesmo? Deus, como querem muitos teólogos, ou um espírito santo. Espírito elevado no caso do segundo trecho e em relação ao primeiro, nem tão elevado assim, como as interpretações bíblicas mais cuidadosas e coerentes nos informam.

Como explicaríamos a contradição dos seguintes versículos se fossem de inspiração verdadeiramente divina, portanto, infalíveis e inquestionáveis?

E falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo;

depois tornava-se ao arraial; mas o seu servidor, o jovem Josué,

filho de Num, nunca se apartava do meio da tenda.

Êxodo 33: 11.

E disse mais: Não poderás ver a minha face,

porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá.

Êxodo 33: 20.

Só a análise rigorosa dos textos bíblicos, considerando não só a sua tradução fiel, baseada em profunda análise lingüística e etimológica, mas também, o contexto social e cultural da época em que eles foram redigidos, nos permitirá que tomemos algum ensinamento por verdadeiramente, ou não, oriundo da espiritualidade superior. Ensino este já era enfatizado por Paulo, nos primórdios da era cristã, quando nos disse que o espírito vivifica e a letra mata.

O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento,

não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.

2 coríntios 3:6

Da mesma forma nos orientou Kardec, quando nos exorta a analisarmos a comunicações mediúnicas de forma racional e equilibrada para que o fenômeno não nos encante e nos iluda, fazendo-nos crer em tolices que, se proferidas por crianças ainda na primeira infância, seriam motivo de riso coletivo.

Se a Bíblia contém inúmeras verdades sublimes ao lado de ensinamentos de origem e conteúdo menos elevado (ou mais material e imediatista), todas as outras obras de origem mediúnica são tão, ou mais, suscetíveis a enganos ou omissões.

Os espíritos sendo os mesmos homens, apenas transitoriamente despidos de sua veste física, trazem consigo as mesmas limitações que tinham quando encarnados. Em função dessa heterogeneidade podem nos transmitir ensinamentos do mais alto teor evangélico ou ocuparem-se de bobagens e curiosidades mais próprias dos profissionais de entretenimento cômico.

Por isso, concitamos aos Espíritas que analisem rigorosamente todas as mensagens oriundas tanto dos estudiosos encarnados, quanto dos espíritos desencarnados, comparem, estudem e discutam para somente depois tomá-las como ensinamento digno de ser seguido.

É o comportamento que deve nos nortear tanto nos estudos evangélicos, quanto nos estudos das obras básicas da Doutrina Espírita. E mais ainda, deve nos dirigir, também, nos estudos dos textos revelados mais recentemente, que no trazem novidades empolgantes, adequadas ao atual estágio de desenvolvimento do pensamento filosófico. Essas devem, entretanto, ser pinçadas por entre as tolices que se espalham por inúmeras produções precipitadas intuídas por entidades interessadas em desacreditar o movimento redentor espírita, assim como desacreditar, também, outros movimentos religiosos também calcados no exercício do bem e do progresso íntimo dos indivíduos.

Além das orientações disponíveis em textos obtidos através da mediunidade missionária, essa habilidade, se adequadamente treinada e desenvolvida, permite o trabalho no tratamento de outras questões espirituais além da tão necessária transformação interior. Estamos nos referindo á obsessão e ás lesões perispirituais dos encarnados e desencarnados ainda cativos de suas culpas e revoltas.

Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.

Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria;

e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência;

E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé;

e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;

I Coríntios 12:7, 9.

Esse tipo de terapia caridosa é exercido de forma segura e protegida dentro das Casas Espíritas sob a assistência de grupos especializados do além, mas também está sujeita a influência de desencarnados ignorantes ou ao discernimento precário de médiuns imprevidentes.

Nestes trabalhos, quando regidos pela disciplina adequada, estão sendo reveladas novas técnicas de acesso ao mundo invisível e de manipulação das energias cósmicas para procedimentos terapêuticos. Esses novos conhecimentos, se acrescidos às bases sólidas construídas pelo cultivo do amor puro ensinado pelo Cristo e reavivados pela Doutrina Espírita, permitem obtenção de resultados surpreendentes no alívio das dores de ordem espiritual. E, em alguns casos, chegam a trazer melhoras até para problemas físicos, isso conforme as leis divinas de merecimento e utilidade coletiva.

A doutrinação dos irmãos desencarnados, presos na dor e desespero, mostrando os caminhos para o auxilio reconfortante, pode ser mais eficiente e rápida com a utilização dessas técnicas que nos vem sendo ensinadas desde 1965, quando o Dr. José Lacerda De Azevedo iniciou suas pesquisas nesta área. Estudos estes que foram publicados pioneiramente no livro de sua autoria, Espírito/Matéria: Novos Horizontes para a Medicina editada pela primeira vez em 1987.

Os seus estudos mostram a utilidade do desdobramento consciente, induzido por pulsos energéticos, no maior aproveitamento dos diversos tipos de mediunidade. Trata-se de um campo novo de pesquisa, que por isso, deve ser abordado cuidadosamente e por vários grupos de trabalho diferentes, para que haja a tão essencial validação pela multicentricidade de ensinamentos concordantes.

O estudo sistematizado como conduzido por Kardec, em relação á terceira revelação, deverá ser repetido, em termos de método e rigor, agora em relação á nova técnica, que nos foi presenteada pelos amigos espirituais. Como já sabemos essas revelações são graduais e proporcionais á nossa capacidade de absorção e dedicação ao estudo responsável.

Portanto, devemos estudar os princípios, a teoria, os fenômenos e os resultados. Apresentá-los aos estudiosos da Doutrina Espírita e da metapsíquica em geral, validá-los pela repetição e corrigi-los em função da crítica pertinente. A prudência e o critério científico serão extremamente úteis para impedir que erremos, mesmo que por entusiasmo inflado pelas mais belas intenções.

Temos que saber que o contato com os mentores, ou mesmo os doentes encarnados e desencarnados, pode muitas vezes envolver uma comunicação mediada por símbolos, que nos exige raciocínio e conhecimento profundo na área do psiquismo saudável e doentio, para a sua correta interpretação.

O contato com o grupo de sofredores dos mais diversos matizes exige, por sua vez, conhecimento teórico das técnicas terapêuticas utilizadas no mundo astral, tais como a manipulação das energias sutis de forma consciente, assim como um cabedal de conhecimentos na área da psicoterapia transpessoal e familiar.

Devemos nos informar, ainda, sobre como se organizam e trabalham as organizações trevosas do além. Eles, como nós encarnados, evoluíram espantosamente em seus conhecimentos tecnológicos e passaram à utilização técnicas de agressão e dominação, não só mais eficientes como mais dissimuladas.

Se persistirmos na ilusão, de que tudo já sabemos, que todas as revelações estão contidas nos cinco livros básicos da Doutrina Espírita e de que as técnicas de terapia espiritual já se desenvolveram até seu limite, estaremos incorrendo em um erro primário. Erro este já cometido por todas as grandes estruturas religiosas que nos precederam e se perderam na grandiosidade de sua estrutura e hierarquia paralisantes.

Se não pretendemos seguir os ensinamentos claros e objetivos de Kardec, para o estudo e progresso contínuo, sigamos pelo menos o ensinamento histórico, que nos mostra padrões de ascensão e queda das estruturas que deixam de se apoiar na investigação e questionamento sistemático, para apoiarem-se em dogmas construídos unicamente para a auto-sustentação de sua própria imensidão, e não para a preservação e difusão de seus mais puros ideais evangélicos.

Giselle Fachetti Machado

Um comentário:

Anônimo disse...

Querido irmao, gostei muito do seu blog, parabens continue sempre assim nos apoiando no conhecimento. Muito obrigado.

Ass.: Lazaro