08 fevereiro 2008

Rituais e rotinas.- Dra Giselle Fachetti

A Doutrina Espírita prescinde de rituais de qualquer espécie por entender que a transformação íntima para o bem é que nos conduz a Deus e não qualquer fórmula exterior.
Entretanto, observamos que com o objetivo de preservar esse despojamento próprio da filosofia Espírita, alguns grupos consideram as rotinas de culto, ou sistematizações, como rituais.
A ordem com que se conduz um culto não é pré-determinada para as Casas Espíritas de uma forma geral. Cada unidade, em particular, tende a estabelecer rotinas que facilitem o trabalho comunitário e que permitam um melhor preparo vibratório para cada uma das diversas atividades desenvolvidas em sua estrutura.
Um ritual, segundo a wikipédia, é um conjunto de gestos, palavras e formalidades, várias vezes atribuídas de um valor simbólico, cuja performance das quais é usualmente
prescrita por uma
religião ou pelas tradições da comunidade.
Essa organização, sem dúvida, influi na qualidade dos trabalhos. Entretanto, qualquer sistematização redund
a em repetições de padrões, o que ao longo do tempo pode se transformar, inadvertidamente, em rituais ao incorporarem equivocadamente significados irreais.
Se o grupo não mantiver uma rotina de estudo e, principalmente, de reavaliações críticas periódicas, essas posturas confusas podem tomar proporções exageradas.
Isso aconteceu em todos os grupos religiosos que hoje são reconhecidos e
influentes. Eles ao crescerem e se hierarquizarem, passaram a absorver interesses outros que não apenas os puros ideais de fraternidade presentes nas origens desses movimentos.
Por isso, entendemos as preocupações de diversos lideres Espíritas, mas consideramos, por exemplo, o banimento da oração dominical nas sessões espíritas públicas, ou atitudes semelhantes, como exageros, por sua vez também equivocados.
A prece deve sempre ser sentida e não apenas repetida. Uma prece conhecida por todos, pode sim, ser recitada de forma uníssona, como um meio para que um grupo tenha sua vibração harmonizada, o que provavelmente potencializará exponencialmente sua eficácia.
Os dirigentes terão que ter o cuidado de sempre conclamar a assembléia de ouvintes para que tenham consciência de que aquela repetição não pode ser automática. Para isso, o estudo minucioso do sentido da oração escolhida deve ser refeito incansavelmente.
Além disso, não podemos deixar de reconhecer que ao repetirmos uma antiga oração estamos, também, reverenciando os grandes avatares do progresso humano, como o Mestre Jesus.
Eles misericordiosamente nos legaram as mais profundas, belas e significativas poesias em forma de prece, colaborando, assim, para nos aproximarem do Criador, pelo menos nos breves momentos em que nos dedicamos àquela prece em particular. Ao repetirmos os sublimes ensinamentos dos mestres iluminados os introjetamos, lentamente, em nossa consciência carente de luz.
Esse exercício, ao longo do tempo, terá certamente uma repercussão positiva que nos tornará capazes de contactar as esferas espirituais superiores através de atitudes mentais individuais e únicas. Possivelmente transmitiremos aos nossos descendentes essas experiências na forma de preces inéditas, que serão proferidas em honra do Criador nas assembléias de jovens livres dos preconceitos e amarras que ainda nos prendem às formas e fórmulas.


Giselle Fachetti Machado

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bem escrito e abordado, Giselle.
Bem colocado o "com o objetivo de preservar esse despojmento [...] alguns grupos consideram [...] sistematizações, como rituais". Isto acontece frequentemente nos lugares que conheci.
Acho que seu tema foi bem escolhido e que você o abordou de forma coerente e inteligente.