10 abril 2009

Perdas: luto, elaboração e sublimação - Luiz Paiva

Ao contrário do que muita gente pensa, o luto não acontece apenas pela morte de um ente querido. Há outros lutos, talvez maiores, que ocorrem após a perda psicológica de um objeto ou pessoa a que se tinha apego.

Apego, eis aí a razão de nossas infelicidades e a chave para nossa libertação. Talvez o grande ensinamento da vida, que vamos aprendendo a duras penas, é desapegarmos de coisas, circunstâncias e pessoas. Desapegar não é amar menos ou diminuir a importância do objeto, mas é compreender e aceitar o fenômeno essencial do Universo, que é a transitoriedade.

O Universo, a vida, a sociedade, as pessoas (incluindo nós mesmos) estamos em contínua transformação. Como dizem os filósofos, em eterno devir ou em contínuo vir a ser. Portanto, o segredo de se manter no perene fluxo da vida é ir desapegando-se do que passou e sintonizando nossas emoções no presente ao que é essencial dentre todas as coisas. Há valores que são permanentes, leis que são indefectíveis e universais, objetivos de vida que transcendem o tempo e o espaço.

Os valores que permeiam as aparências e as exterioridades, como posse, estatus, beleza e fama são mais fugazes e impermanentes do que a própria vida em si, tão efêmera “que passa como um sonho”, como nos ensina a Bíblia. As leis do amor universal e da perfectibilidade dos seres criados por Deus são tão relevantes que jazem insculpidas na nossa consciência e na essência dos fenômenos universais estudados por nossas ciências, desde a física das partículas à biologia molecular e à biologia evolucionária.

Não há objetivos e verdadeiro sentido para a vida tão permanentes e eternos do que aqueles ensinados pelos grandes avatares da humanidade e, mais do que por qualquer outro, por Jesus Cristo. Trata-se do cumprimento da grande lei de solidariedade universal que une a todos, pessoas e demais criaturas. Através da consecução desta lei que nos coloca no seio da plenitude e da felicidade imarcescível, surgem os objetivos sempre atuais de prática da fraternidade, de amor incondicional, de inclusão dos excluídos, de perdão ilimitado e de tolerância constante.

A doutrina espírita pedagogicamente nos esclarece tudo isso e, como Jesus, há dois mil anos, reafirma-nos a realidade da sobrevivência do espírito após a morte e a continuidade da vida em outras dimensões do Universo. Por isso, consola-nos os corações sofridos no luto pelas grandes perdas, seja pela visita da morte, seja pelo abandono de almas queridas, seja pela perda de ilusórios haveres ou de posição social.

O espírito Emmanuel, através de Chico Xavier, consola-nos e exorta-nos à transcendência face às grandes perdas, tomando por paradigma as causadas pela morte:

Ante as lembranças queridas dos entes amados que te precederam na Grande Transformação, é natural que as tuas orações, em auxílio a eles, surjam orvalhadas de lágrimas. Entretanto não permitas que a saudade se te faça desespero.

Recorda-os, efetuando, por eles, o bem que desejariam fazer. Imagina-lhes as mãos dentro das tuas e oferece algum apoio aos necessitados.

Lembra-lhes a presença amiga e visita um doente, qual se lhe estivesses atendendo à determinada solicitação. Distribui sorrisos e palavras de amor com os irmãos algemados a rudes provas, como se os visses falando por teus lábios, e atravessarás os dias de tristeza ou de angústia com a luz da esperança no coração, caminhando, em rumo certo, para o reencontro feliz com todos eles, nas bênçãos de Jesus, em plena imortalidade.”


Luiz Antônio de Paiva é médico-psiquiatra e presidente da Associação Médico-Espírita de Goiás

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