05 abril 2010

XAMANISMO - Dr. Ivan Hervé


O homem de Neanderthal deixou inúmeras pistas que demonstram, quase com certeza, veneração e culto de certos animais, entre os quais o urso. Também acreditavam na vida após a morte, como provam cadáveres enterrados com utensílios e viveres. Até prováveis cemitérios foram encontrados. Portanto a religiosidade nasceu com eles, provavelmente.

Com o homo sapiens moderno surgiu o culto dos antepassados e daí nasceram as religiões..

Por outro lado, xamãs foram, indubitavelmente, os primeiros médicos feiticeiros, raramente sacerdotes. Estando presentes, ha pelo menos 40.000 anos atrás, em plena era das tribos coletor-caçador, com testemunham as pinturas realizadas nas cavernas européias.

Não é possível determinar quando surgiram, mas, o que é inegável, é que se espalharam por todos os continentes e, ainda hoje, encontram-se na África, Sibéria, Austrália e América do Sul. É de crer que, em algum momento, tenham existido em todas as civilizações.

Mais notável ainda é constatar a extrema semelhança das crenças e atos por eles praticados, mesmo por aqueles situados nos locais mais remotos.

Porque e como isso aconteceu, não se sabe ao certo. O mais provável é que tenham aparecido de forma espontânea em diversos locais.

O estado alterado de consciência, fundamento de todas as manifestações xamanicas, parece derivar de uma tendência inata no ser humano.

Confirmando o acima afirmado, existem inúmeros trabalhos, destacando-se o de Érica Borguinon, no qual demonstra que, em 488 pequenas sociedades, o transe era habitual e comum em 92% delas, sem qualquer sinal de insanidade (citada por M. Eliade).

Aliás, estado alterado de consciência permanece, em nossos dias, como elemento indispensável em muitas religiões atuais, tais como hinduísmo, budismo e espiritismo.

Definir xamanismo, ainda mais considerando os estudos atuais, não é fácil, mas vamos tentá-lo.

Embora algumas diferenças existam, todos são capazes de entrar em estado alterado de consciência, durante os quais vivificam seu espírito viajando para outras dimensões, sob o comando de sua vontade, interagindo com outros espíritos, tanto do mundo superior quanto do inferior.

A definição acima demonstra que, no xamanismo, a vivência pratica é mais importante que dogmas ou crenças. Harner afirma que “xamanismo é, em ultima analise, apenas um método e não uma religião com um conjunto de normas fixas”.

Como alguém se torna um xamã?

Geralmente o “chamado” ocorre na adolescência ou no inicio da vida adulta, caracterizando-se por vivências ou condutas incomuns, obrigando o futuro xamã, independente de sexo a desenvolver suas potencialidades, o que, geralmente, faz sob a orientação de um mestre. Vezes ha em que a tradição é familiar ou são indicados pela tribo.

Os jovens que recusam o “chamado”, geralmente apresentam distúrbios psicossomáticos, podendo até morrer.

O aprendizado é longo, culminando na iluminação xamanica, alcançada ao sentir a morte, isto é, ao despojar-se do corpo físico, pelo pensamento, restando apenas sua armação óssea. Isso significa, para eles,a morte,da qual ressurgem com novo corpo e novo sangue (ressurreição).

Os responsáveis pela morte-renascimento são seus espíritos protetores ou demônios.

A crença na ressurreição esta presente em religiões tradicionais e em modernos métodos de tratamento, tais como, budismo tântrico, iniciandos de Sapata (Xapanã), judeus (Lazaro), em praticas psicoterapicas, alcançando grande intensidade no uso terapêutico do LSD e na respiração holográfica.

A ressurreição do Cristo aceita por católicos e protestantes, repete as crenças anteriores, julgando que tenha subido aos Céus, com sua roupagem física.

Lucas, no entanto, nos Atos dos Apóstolos, narra que Jesus, em aparição aos apóstolos, desapareceu em uma nuvem, juntamente com dois varões vestidos de branco, os quais haviam surgido com Ele.

Portanto, no caso de Jesus e seus dois acompanhantes, houve materialização, podendo atravessar paredes, diferente da ressurreição, onde o corpo físico é preservado.

Os xamãs julgam que toda e qualquer manifestação da natureza é viva, dai empregarem, em seus trabalhos, elementos dos três reinos. Consideram os animais como parentes próximos e, em estado alterado de consciência, encontram-se com eles (animais de poder) e, por vezes, os mesmos assumem a forma humana.

Para eles, todos possuem animais de poder, afastados em caso de enfermidade, quando devem ser recuperados.

Dada sua maneira de pensar, lógico é usar minerais e plantas, objetos, pertences pessoais e/ou algo retirado do corpo do paciente, para executar seus trabalhos. Também empregam espíritos auxiliares. Utilizam as “forças” dos cemitérios.

Entre os minerais destaca-se o quartzo (cristal xamanico), onde é capaz de ver o passado e o futuro. Pode ainda exercer a vidência e a adivinhação. A bola de cristal é uma reminiscência xamanica.

A “viagem”, “vôo da alma” ou “experiência fora do corpo”, significa que seu espírito abandonou o corpo, visitando novos mundos, superiores ou inferiores.

Neles ele estuda, obtém poder, faz diagnóstico, trata enfermos, encontra pessoas, animais, enfrenta forças adversárias e é ajudado pelos espíritos amigos.

Os três mundos interagem continuamente.

Entra, conscientemente, em transe, nele permanece consciente e dele sai quando quiser.

O exercício de sua atividade contribui para manter sua saúde física e mental. Não doa sua energia ou seus animais de poder.

O xamã pode usar seus poderes para fazer o bem ou o mal. Para atingir seus inimigos ou quando pago por interessados, busca agir, física e/ou mentalmente, sobre os objetos de sua ação.

Dai serem olhados com respeito e temor.

Bibliografia

Eliade, Mircea – El Chamanismo y las técnicas arcaicas del éxtasis – Fondo de Cultura Económica – México - 1960

Harner, Michael – O Caminho do Xamã – Cultrix- São Paulo – 1989

Walsh, Roger, N.- O Espírito do Xamanismo – Saraiva – São Paulo – 1993

Clotes,Jean e Lewis-Williams,David – The Shamans of Prehistory- Harry N.Abrams,Inc.Pubnlishers –New York - 1998

Um comentário:

Nelson Candido disse...

Somente a titulo de informação e sem qualquer tipo de julgamento ou intenção que não seja a de agregar conhecimento ao ótimo ensaio, acrescento que a "viagem" a que se refere o texto, uma referência ao desdobramento da consciência espiritual libertando-se dos limites do cérebro personalista, acontece estimulado pela ingestão do Ayahuasca, cujo conceito literal transcrevo abaixo.

"Bebida Sacramental Ayahuasca, é, principalmente, fruto da decocção do cipó Banisteriopsis Caapi e a folha Psycotria Viridis. Outras espécies de cipó e folha também são utilizadas em algumas regiões.
É também conhecida por Yagé, Caapi, Nixi Honi Xuma,Oasca,Vegetal, Santo Daime, Kahi, Natema, Pindé, Dápa, Mihi, etc.
Seu nome mais conhecido, AYAHUASCA é de origem quechua, que significa "Liana ´(Cipó) dos Espíritos ". É chamada também de "O Vinho da Alma " ou "Pequena Morte". Fonte Internet.

Dito isto, e trazendo estes estados transcendentes à luz da Apometria, o indivíduo, além de viajar a outros mundos e se relacionar com entidades espirituais, também fica exposto aos seus próprios níveis conscienciais, ou seja ao seu próprio peso kármico. De acordo com o momento emocional, do nível de entendimento e evolução de cada um, não se pode prever as conseqüências destes contatos. A meu ver, opinião exclusivamente minha de acordo com a pouca leitura que tenho sobre o assunto, motivo de desencarne de alguns adeptos desta técnica que, penso ser extremamente útil para tratamento das endemias espirituais, em especial as mais difíceis como dependências químicas, mas que necessita muito cuidado por parte de seus praticantes. Estamos cada vez mais adentrando os mistérios das dimensões espirituais. Na medida em que evoluímos neste aspecto, necessário se faz a evolução moral para que possamos adentrar estes mistérios de forma a trazer benefícios a outros e a nós mesmos.
Nelson Candido