05 maio 2011

Onívoros ou viciados em carne? Dra Giselle Fachetti

O ser humano emergiu do selvagem através de um elaborado sistema evolutivo orquestrado pela espiritualidade superior. Neste complexo e gradual processo desenvolveu diversas habilidades que propiciaram sua sobrevivência em ambiente inóspito.

A capacidade de assimilar alimentos variados foi crucial na sobrevivência da espécie humana. Essa característica é uma das variantes fundamentais para o sucesso de uma espécie, por que reflete sua capacidade de adaptação.
Assim, o homem é onívoro em sua origem e, isso contribuiu para perpetuação de nossa espécie. O processo evolutivo não se encerrou com a passagem do selvagem para a razão, ele continua ainda hoje e, destina o homem a angelitude.
Estamos vivendo um processo contínuo e muito bem planejado. Sabemos que a superioridade da espécie humana sobre os outros seres da criação não é pressuposto de poder ilimitado e absoluto, pelo contrário, é pressuposto de responsabilidade.
Se nos dirigimos à angelitude pelo exercício da vida física teremos que, mesmo nesta dimensão, aperfeiçoarmos todos os processos biológicos para que se tornem mais sutis, delicados e eficientes. A transformação se dá inicialmente no espírito e se transfere ao corpo físico por ressonância vibratória da essência espiritual.
Os coordenadores espirituais do processo evolutivo terrestre há bilhões de anos trabalham as inúmeras variáveis desse complexo desafio em seus laboratórios celestiais para que possamos chegar aos limites máximos da evolução humana em nosso planeta.
A transformação da terra de mundo de provas e expiações para orbe regenerativo está em curso e, tempo há para a concretização de cada uma das etapas de tão grandioso projeto.
A ferramenta de transformação é o amor e, o aprendizado do amor é o programa educativo em andamento. O imediatismo distorce e fragiliza qualquer grande projeto.
Quando pretendemos construir virtudes pela repressão de desejos e hábitos ainda arraigados, em oposição à construção de virtudes pela valorização de conquistas já obtidas, estamos repetindo processos falidos em incontáveis oportunidades pretéritas.
Revisemos a história. Quantas punições inúteis, quantas masmorras, quantas fogueiras, quantos crimes travestidos de defesa da fé e da pureza. Pretensas defesas de virtudes e reais exercícios do orgulho e do autoritarismo.
Estamos em um mundo cujo progresso é evidente, porém, não é homogêneo. Ocupamo-nos em buscar soluções para o surto de obesidade em algumas nações, enquanto em outras, assistimos, ainda hoje, o desencarnar de crianças esquálidas sem acesso sequer a água potável.
Ao nos depararmos com tamanha diversidade deveríamos reconhecer a sua utilidade, as diferenças são instrutivas. Elas propiciam análises sob uma ótica mais abrangente. Essa capacidade de enxergarmos múltiplas facetas de uma só verdade nos torna mais humanos, no sentido mais positivo que o adjetivo humano possa ter.  
Enxergarmos mais do que apenas o nosso ponto de vista é sermos capazes de abstrairmos. Abstração é, obviamente, irmos além do concreto, e nos oferece a possibilidade de nos conectarmos com a grandiosidade do universo e com seus valores maiores, aqueles frutos do amor.
O amor gera a compaixão, a fraternidade, a solidariedade. Esses sentimentos devem unir os humanos entre si e, devem, também, nortear suas relações com os outros seres da criação.
Necessitamos da alimentação carnívora, em graus variados dentro de uma mesma população A premissa de que deveríamos abolir a alimentação carnívora por ser um vício odioso é parcial e restrita.
Analisemos, caso todos os terráqueos deixassem de comer carne bovina de hoje para amanhã, o que aconteceria?
Os rebanhos seriam abandonados pelos criadores, ou não? Sem dúvida seriam, já que os pecuaristas deixariam de obter lucros com “seus animais”. Nesta situação proliferariam livremente? Estaríamos, sem dúvida, diante de um acidente ecológico de dimensões trágicas.
As transformações graduais permitem a adaptação e a sobrevivência, portanto a proposta de redução progressiva do consumo de energia de origem animal pelos seres humanos é plausível e factível.
Sabemos que todos os excessos são perniciosos e, constituem atitudes viciosas. A carne é de difícil digestão, se putrefaz no intestino e gera desconforto gastrointestinal quando consumida de forma abusiva. São reais as “ressacas” de carne após lautos churrascos.
Entretanto, o corpo humano necessita de substâncias que não existem em fontes vegetais. As gestantes vegetarianas têm mais anemia que as onívoras. A cianocobalamina, vitamina B 12, previne alguns tipos de anemias.
A cianocobalamina só existe em fontes animais, ou em sínteses de laboratório, através da manipulação genÃ?mica de bactérias. Os vegetarianos têm a opção de usar uma substância sintética para corrigir sua eventual deficiência.
Caso fossemos vegetarianos degenerados em carnívoros viciosos, não haveria sequer uma única molécula necessária à manutenção da homeostase orgânica que estivesse ausente em um cardápio verde.
Como seres em evolução, estamos nos desligando de necessidades mais grosseiras, mais viscerais. É um longo processo, alguns estão mais avançados neste caminho biológico. Outros ainda não o iniciaram. A superioridade não se encontra em abolirmos a carne de nosso prato. Ela se encontra em aumentarmos o amor em nosso coração.
O amor puro irradiado de nosso coração promoverá mudanças necessárias e urgentes, tanto em nossa alimentação como em nosso relacionamento com as outras criaturas de Deus.
Ao equilibrarmos nossos hábitos alimentares, ao evitarmos excessos, conquistaremos saúde física estável. A carne, os doces, as massas, as gorduras devem ter seu consumo limitado, reduzido. Quando toda a humanidade optar por uma alimentação balanceada reduziremos paulatinamente o número de cabeças nos rebanhos e a população de aves e suínos das granjas.
Hoje deveríamos promover o exercício da compaixão. Ao aceitarmos a realidade de que não aboliremos a alimentação carnívora de um dia para o outro, se nos descortinam frentes importantes de atuação cristã, frentes tais como a luta para que a sociedade humana se adapte a uma alimentação cada vez mais frugal.
Iniciemos por reivindicarmos normas de criação e abate dos animais condizentes com a presunção de sermos efetivamente humanos. A crueldade com os animais que servem ao homem deve ser banida. Sua criação deve respeitar necessidades e hábitos de cada espécie.
Devemos buscar o controle, inclusive, das técnicas de plantio e colheita dos vegetais que consumiremos ou, seremos intoxicados por pesticidas contidos nos coloridos legumes e frutas que supomos isentos de toxinas materiais ou etéreas.
A transformação que esperamos envolve uma atitude sustentável em relação à produção de alimentos com responsabilidade ecológica e social.
Trata-se de uma proposta muito maior do que abolir a proteína animal de nosso cardápio diário. Trata-se de abolirmos o que é negativo de nossa existência, de forma gradual e perseverante.
Se hoje ingiro um bife do tamanho da palma da minha mão e, não mais dois quilos de picanha em uma única refeição, eu estou efetivamente colaborando para o progresso da humanidade.
Lutemos por causas viáveis respeitando a adequada oportunidade de escalarmos cada degrau por sua vez. E mais, respeitemos os que ainda engatinham nessa jornada. Só assim, construiremos uma rede social produtiva e construtiva, que honra verdadeiramente o seu mestre maior, Jesus, O Cristo.

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