31 maio 2022

Entrevista especial com Dr. Paulo César Fructuoso

Escrito por: Redação do Correio Espírita


Médico, escritor e estudioso em ectoplasmia fala sobre Doutrina, trabalho mediúnico e a morte do médium Gilberto Arruda

A entrevista aconteceu dentro de um hospital público no Rio de Janeiro, durante um tempo cedido por gentileza na agenda repleta de responsabilidades e compromissos de Paulo César Fructuoso. Médico oncologista, mastologista e cirurgião geral, Fructuoso é também palestrante espírita, estudioso de ectoplasmia e materialização dos espíritos, médium e autor de 4 livros: A Face Oculta da Medicina, Espíritos Decaídos e Materializados, Reflexões Espiritualistas e Científicas de um Médico e Alienígenas ou Médiuns?, este último lançado no mês de março deste ano. Não é à toa que ele é membro da Academia Brasileira de Médicos Escritores.

Espírita desde criança, começou a se interessar por ectoplasmia quando estava no terceiro ano de medicina, em 1972. Na época, um episódio acontecido com o pai chamou a atenção: “meu pai tinha chegado de uma reunião do grupo Frei Luiz, a qual eu pertenço até hoje, e estava com uma mancha enorme de sangue na camisa. Eu perguntei o que tinha acontecido e ele me disse que tinha sido submetido a uma cirurgia hiperfísica, uma “cirurgia espiritual”. Para um acadêmico de medicina isso era uma coisa muita estranha, até difícil de acreditar, principalmente quando não existia nenhuma cicatriz”, lembrou Fructuoso. Intrigado, o na época jovem aspirante a médico decidiu levar o pai para fazer exames e avaliações: “o radiologista perguntou se o meu pai tinha se submetido a alguma cirurgia. Evidentemente que falei que não. Mas aquilo me causou muita estranheza, porque ele via sinais de que alguma cirurgia tinha sido feita. Mas eu só passei a ter tempo para estudar mais efetivamente esses fenômenos em 1978, aí eu ingressei e nunca mais saí”, contou o médico.

Depois de tantas oportunidades de acompanhar e estudar de perto diversas curas, Dr. Fructuoso é categórico em dizer: “não acredito em milagres! Não existem milagres! Existem leis físicas, químicas e biológicas que a nossa ciência ainda não alcançou”, e ainda complementou: “a minha experiência já me comprovou que nenhum médico está sozinho, nem os que não acreditam nisso estão sozinhos. Porque nós, como médicos, só podemos tratar da parte material do nosso ser, mas quem está tratando da parte mais importante, que é a espiritual? Então todo o médico, mesmo o que não acredite nisso, está acompanhado por médicos espirituais que o ajuda na missão. E eles são tão humildes que nem deixam que percebamos a ajuda”.

Dr. Paulo César Fructuoso falou também sobre a morte do amigo Gilberto Arruda, assassinado em casa, dentro do Lar de Frei Luiz, em julho 2015. Gilberto Arruda era um dos principais médiuns do Centro, na Zona Oeste do Rio, e trabalhava diretamente nas reuniões de cirurgias espirituais em pacientes graves. Acompanhe abaixo a entrevista:

Correio Espírita – Embora saibamos que o Espiritismo é ciência, filosofia e religião, no meio acadêmico, a Doutrina ainda é vista com restrição. O senhor acredita que estamos avançando neste aspecto? 

Dr. Paulo César Fructuoso – “Sim. Porque a tecnologia médica está cada vez mais avançando. Mais cedo ou mais tarde, a tecnologia se tornará tão sensível que permitirá a detecção da presença do ser energético espiritual acoplado ao corpo. E no momento da morte, essa tecnologia médica vai nos auxiliar, pela sensibilidade, a perceber a separação exata entre o corpo e o espírito. Isso é questão de tempo!”

Correio Espírita – Ciente da ajuda incansável dos amigos espirituais, o senhor costuma fazer prece antes de um atendimento ou cirurgia?

Dr. Paulo César Fructuoso – “Eu não entro em nenhuma cirurgia sem antes dizer a seguinte frase: ’Deus nos ajude’! Sempre é bom pedir. E quando eu não digo essa frase, fico só pensando, meus assistentes, residentes, me perguntam se eu não esqueci de falar nada”.

Correio Espírita – O senhor é estudioso de efeitos físicos, ectoplasmia e materialização. Todos os livros têm esse cunho. Mas o que presenciamos é cada vez menos atividades deste porte nas casas espíritas. Por que isso acontece?

Dr. Paulo César Fructuoso – “Efeito físico é movimento de objeto sem força aparente, ruídos sem causa aparente, presença de odores inexplicáveis no ambiente como éter, cânfora, arruda... Isso é efeito físico, que culmina com a materialização de espíritos. São fenômenos extremamente raros em toda a história humanidade! 

Já o ectoplasma, que é energia, é utilizado pelos espíritos presentes em uma reunião, mas raramente os fenômenos físicos acontecem. Apenas médiuns videntes percebem isso. E essa energia, o ectoplasma, é utilizada em auxílio dos pacientes que se encontram na reunião.

Nos meus livros eu falo da ectoplasmia e dos fenômenos de efeitos físicos, incluindo a materialização de espíritos, porque eu convivi com isso nos últimos 40 anos.

Essas reuniões são raríssimas porque os médiuns de efeitos físicos também são muito raros. Eles foram dizimados na idade média pela inquisição, porque foram tachados de feiticeiros e magos. E como toda a mediunidade, as de efeitos físicos também são transferidas geneticamente para as gerações futuras. Ora, se se dizimou uma geração quase inteira, a propagação dessa mediunidade ficou muito abalada, diminuída.

Outra razão para essa escassez de reuniões de materialização é a grande quantidade de energia envolvida neste processo. Precisa estar em mãos de pessoas muito conscientes da responsabilidade de se estar nessa reunião.

Só há dois motivos para que a materialização de espíritos seja autorizada pelo plano espiritual: atendimento de pessoas enfermas, que apresentem doenças que a nossa medicina pouco ainda pode fazer, como o câncer. E o fornecimento de lampejos que mostram como será a medicina do futuro. Porque os médicos do futuro serão médiuns. Não vão precisar de Raio X, ressonância, ultrassom, porque com a própria mediunidade eles vão saber descortinar o corpo humano.

Correio Espírita – Explique para nós como acontece a materialização de espíritos?

Dr. Paulo César Fructuoso – “O médium de efeito físico entra em transe profundo, porque há uma liberação, sob o comando de entidades espirituais, de neurotransmissores existentes no nosso sistema nervoso, chamados endorfinas e encefalinas. Essas endorfinas e encefalinas são anestésicos, soníferos. Então como é feita uma grande descarga, uma grande liberação no médium de efeito físico, ele entra em transe. Quando ele entra nesse transe mediúnico, começa a expelir, pelos orifícios naturais do corpo, o ectoplasma de forma fluídica, que se liquefaz e se solidifica. É essa energia ectoplasmática, esse fluido energético que reveste o períspiritos das entidades presentes e elas se corporificam, se materializam.

Se estivermos em alguma reunião em que aconteça a materialização de espíritos, todos os presentes verão, e não só os médiuns videntes. Se o Espírito falar alguma palavra, todos os presentes o ouvirão. Se ele exalar algum odor, todos também sentirão.

Para que essas reuniões aconteçam, há uma série de exigências, exigências científicas, como por exemplo a ausência da luz. Isso porque os fótons das luzes natural e artificial afetam o ectoplasma e o médium quando em transe. São reações físicas e químicas que precisam da ausência da luz, assim como era preciso a ausência da luz para se revelar os filmes fotográficos no passado.

Correio Espírita – Qual a importância dos efeitos físicos ao longo da história humana?

Dr. Paulo César Fructuoso – “Os fenômenos físicos foram que levaram a ratificação do Cristianismo. Eu falei que o ectoplasma sai principalmente pelos orifícios naturais, como boca e nariz. O que os discípulos de Jesus viram e escreveram no seu testemunho, quando Ele curou um cego? Jesus cuspiu na terra, formou um cataplasma com a saliva que saiu da boca dele e aplicou na vista do cego, que voltou a enxergar. Mas e se não foi saliva que saiu da boca de Jesus? Se foi ectoplasma? Ele também era médium, o maior médium que já passou pelo planeta. Os discípulos devem ter visto, na minha opinião, ectoplasma saindo da boca de Jesus.

Correio Espírita – E para o futuro?

Dr. Paulo César Fructuoso – “Acredito que as reuniões de materialização ficarão mais frequentes no futuro, porque estão previstas a chegada de quatro grandes vertentes de espíritos na Terra, como já foi adiantado por Divaldo Pereira Franco. Uns ligados à corrente da engenharia, que trarão grandes invenções; o segundo grupo com grande senso de justiça; o terceiro voltado para o ramo das artes; e o quarto, e me parece ser o mais importante, espíritos com grande capacidade mediúnica”.

Correio Espírita – Sobre a morte do médium Gilberto Arruda. Todos ficamos chocados com o crime na época. O que o senhor, que foi amigo dele, tem a nos falar sobre esse acontecimento?

Dr. Paulo César Fructuoso – “Todos os médiuns de efeito físico são indivíduos altamente endividados. É dada as eles a missão da mediunidade de efeito físico para que mais rapidamente possam resgatar as dívidas do passado. Muitos não imaginam o que é ser um médium de efeito físico. Nós temos um envoltório em torno do nosso espírito chamado tela búdica, que impede que sintamos o contato dos espíritos que estão à nossa volta. Os médiuns de efeito físico têm a tela búdica mais fina e fenestrada, e por isso expelem com mais facilidade o ectoplasma. Mas isso traz um inconveniente, eles sentem o toque dos espíritos. O Gilberto sentia, do nada, bofetadas, beliscões, pontapés, puxões de cabelo... Além disso, geralmente, os médiuns de efeito físico têm morte violenta. O médium José Arigó, por exemplo, morreu em um desastre de automóvel.

O Gilberto tinha dificuldade para dormir, tamanha era a tortura que ele sofria por parte dos espíritos inimigos do plano espiritual, quando era criança e adolescente. Ele só conseguia adormecer quando deitava entre o pai e mãe, segurava a mão dos dois e eles entravam em prece.

Já se sabe quem cometeu esse crime contra Gilberto Arruda. Ele está preso. Mas esse trabalho que o Correio Espírita está fazendo é muito importante, pois esclarece sobre o fato”.  

Correio Espírita – Já se teve notícias do médium Gilberto Arruda do plano espiritual?

Dr. Paulo César Fructuoso – “Sim. Ele está recuperado, emocionado em saber do apoio daqueles que aqui ficaram e feliz em estar com os entes queridos”

01 novembro 2021

O quão difícil é conversar sobre a morte? Antônio Moreira

A nossa cultura não nos ensinou a falar sobre a morte. E isso nos dificulta no enfrentamento de situações de perda de entes queridos, mesmo sendo essas experiências inevitáveis em nossas vidas. Apesar de sabermos que estamos aqui só de passagem, e que todos nós desencarnaremos um dia, raramente conversamos sobre esse assunto.

Se perguntarmos para alguém qual é o contrário da palavra vida, possivelmente ouviremos que é morte. Mas morte é o contrário de nascimento. E assim, chegamos à conclusão de que não existe o contrário de vida, pois a vida existe sempre. A vida é eterna.


O princípio básico de todas as religiões, é que a vida continua após aquilo que chamamos de morte. A vida não tem fim, pois somos seres eternos, evoluindo sempre. E assim, num processo de crescimento, aprendizagem e transformação permanente, nos aproximamos cada vez mais de Deus.


Outro fator interessante sobre a morte do corpo físico é o fato de que esse acontecimento é muito democrático. Nivela a todos: ricos e pobres, cultos e ignorantes, bons e maus, crentes e descrentes, e nos traz uma percepção de que, no final, somos todos iguais!


Precisamos ampliar a nossa compreensão sobre esse momento de nossas existências, pois a morte é a plenitude de uma vida. Ela encerra um ciclo, no tempo certo. Não no nosso tempo, mas no tempo de Deus. Aliás, somente justificaria pensar que a morte teria sido antes do tempo, se existisse uma única vida. Mas tudo acontece na época  certa, no tempo em que foi planejado, em um momento especial, muito antes da nossa chegada no ventre materno.


É muito comum ouvir das pessoas, sobre o medo de morrer, por não se acharem preparadas ainda para esse momento. E, possivelmente, nunca estaremos preparados, pois sempre teremos pendências a resolver em nossas vidas. Também nos preocupamos e questionamos se uma pessoa que desencarnou estaria bem do lado de lá. E a resposta certa é que sim, muito melhor do que se ainda estivesse aqui, pois a vida verdadeira é no plano espiritual. Em algumas situações  em que uma pessoa se encontrava enferma antes do falecimento, questiona-se se ela estaria doente do outro lado também. Ela  estará se recuperando de forma muito mais rápida, pois agora habita um mundo muito mais evoluído, com um corpo perispiritual muito mais sutil e mais fácil de ser tratado do que a veste física que utilizava tempos atrás.


Outra preocupação que corrói o coração de familiares, acontece nos casos de suicídio. Cabe esclarecer que quem abrevia a própria vida, não quer acabar com a vida, mas com uma dor imensa que tornou-se insuportável. Mas, após perceber que a vida não acaba e ser acolhido no plano espiritual com a amorosidade do Cristo, tudo se transforma. Ninguém é abandonado! E aqueles que passaram por esse processo tão doloroso,  poderão, o mais breve possível, a depender de cada caso, superar a dor de outrora e seguir sua caminhada evolutiva.


Passar pelo processo do luto, todos nós passaremos um dia, nessa vida e/ou em outras. Todavia, a nossa relação com a morte, como a entendemos, como a aceitamos, muda tudo. Ninguém quer passar por esse tipo de dor, isso é certo, mas compreender a vida além dessa encarnação transforma a forma de olhar os fatos. E quando mudamos a forma como olhamos os fatos, os fatos mudam.


Não existe castigo. Aquilo que chamamos de carmas, são necessidades de experienciar dificuldades e dores, para aliviar os sentimentos de culpa por nossos atos infelizes do passado. Assim, após experienciarmos a dor,  e nos desvencilharmos de energias negativas do passado, nos tornaremos mais leves espiritualmente, e poderemos seguir, gratos pela oportunidade, a nossa caminhada rumo a mundos mais elevados.


O significado da palavra reclamar é clamar duas vezesOu seja, é pedir novamente. O Universo e o seu corpo entendem o seu pensamento como a sua vontade. Então, é extremamente necessário que aceitemos as experiências difíceis da vida como elas são. Aconteceu e não tem como mudar essa realidade, mas a vida precisa seguir em frente, apesar da dor.


E para finalizar, se acreditamos que Deus é justo e bom, podemos concluir que não se justifica a tentativa de negociar com Deus, visando não enfrentar dificuldades. Cabe sim, um olhar sincero para dentro de nós, buscando uma compreensão maior e a percepção honesta daquilo que poderia ser transformado para melhor. Aliás, a verdadeira bondade em nossas vidas seria aquela que a fizéssemos sem ser uma obrigação e de forma espontânea. Devemos fazer o bem naturalmente, pois amar o próximo está em nossa essência, nós apenas não nos despertamos para isso ainda.


Antônio Moreira Júnior é terapeuta de Clean Language e PNL


30 outubro 2021

Dores Humanas – um olhar sobre as perdas na Pandemia - Cristiane de Carvalho Neves

Cristiane de Carvalho Neves CRP-09/5022 -

Psicóloga especialista em Terapia Sistêmica Familiar e Intervenções em Luto



Q
uem de nós imaginaria passar por uma pandemia ou por um isolamento social? As nossas famílias enfrentaram algo inusitado e inesperado. Além das diversas perdas, que emocionalmente não devem ser comparadas, as pessoas estiveram consumidas pelo medo devido à alta possibilidade de um ou mais membros se contaminarem, também sentiram medo devido ao agravamento dos sintomas com possibilidade de morte após o contágio do vírus, e o nosso medo foi sendo reforçado diariamente conforme aumentava o número de infectados e mortos em todo o mundo.

A perda é um dos processos mais desorganizadores da vida humana. Não somente a perda de pessoas, mas qualquer processo de mudança de vida pelo fato de implicar o desaparecimento de uma antiga e conhecida condição, com a obrigatória passagem para uma nova e desconhecida fase. Isso descreve exatamente o que passamos. Rotinas bem estabelecidas precisaram ser readequadas às exigências sanitárias com restrições sociais. Com o coronavírus, na condição do isolamento, tudo mudou e repentinamente. Vimos correria aos supermercados e as pessoas desesperadas em busca de álcool em gel 70%, máscaras e outros... Tudo isso, já evidenciando um processo de adaptação à nova realidade que nos estava sendo imposta. Toda aquela realidade que conhecíamos estava sendo desfeita. Cada pessoa foi buscando se reorganizar à sua maneira, de acordo com os seus recursos disponíveis internos e externos, a essa nova condição de sobrevivência. 

Além do mais, Baricca (2008) fala sobre a angústia que nós sentimos quando nos deparamos com a possibilidade de morte. Ela diz que a “angústia de morte significa, portanto, viver a presença imponente de uma ameaça à nossa existência.” [...] “Assim, pensar a própria morte, ou a sua possibilidade, provoca forte sentimento no ser humano, de modo que a angústia desencadeada é transformada, defensivamente, em medos e dificuldades.”

Tivemos uma preocupação com o movimento das nossas famílias durante essa crise que, podemos dizer, ainda atravessamos. A palavra crise na sua etiologia, pressupõe crescimento, oportunidade. Toda crise desestabiliza o que existia e abre uma oportunidade “sagrada” de reinvenção; uma oportunidade para a mudança. Para que a gente possa atravessar uma crise como algo sagrado, a gente precisa se perguntar qual é o meu propósito para hoje? E a família em crise pandêmica pode ser estimulada a enxergar o propósito de reinvenção daquele sistema; repensar o modo de relacionar uns com os outros como uma oportunidade de aproximação e aumentar a intimidade entre os membros da família; corrigir os erros, pedir perdão; propiciar novas formas de interação, o resgate de brincadeiras há tempos deixadas de lado; ou até novas receitas culinárias. 

Considerando os cuidados com as nossas famílias, compreendemos a sua importância como matriz no desenvolvimento biopsicossocial do indivíduo – um sistema de vínculos afetivos por meio do qual se gera e se desenvolve a organização psíquica do indivíduo. Nesse sentido, esperamos que a família seja um lugar de segurança, cuidado e afeto. Esslinger (2008) corrobora com o conceito que Carter e McGoldrick definiram sobre família dizendo que é um “sistema movendo-se através do tempo, com papéis, funções e relacionamentos insubstituíveis. Esse sistema, por sua vez, tem seus ciclos, os quais podem ser facilitadores ou dificultadores na aceitação de mudanças, dentre elas, as perdas”.

Portanto, as famílias estão amedrontadas. O medo é instintivo e foi necessário na preservação enquanto espécie. O medo que desenvolvemos do novo coronavírus é algo natural, impossível de ser evitado. Esse medo tem dois lados: o positivo está em cuidar da vida, em não se colocar em situações de risco. O negativo ocorre quando o medo causa muito sofrimento, quando impede a continuidade da vida. Porque sentir medo nos serve como instinto de sobrevivência, que nos prepara para a luta ou fuga.  Quando isso acontece, somos protegidos. Só não podemos viver o tempo todo assim como um alarme com defeito, pois teremos um desgaste psíquico. 

Nesse momento de tantas perdas, precisamos compreender que cada pessoa lida com rompimentos afetivos à sua maneira. E precisamos saber respeitar o tempo de processo de luto individual. A mente do enlutado, no primeiro momento, está confusa com todo o desmoronar na vida dele. Dependendo do que falamos ao enlutado, podemos ajudar ou ferir ainda mais. Na verdade, quanto menos falar, melhor. Então, um abraço, um olho no olho, e o principal, apenas dizer “estou aqui com você”, já é o suficiente! Frases como “Agora ele já não sofre mais”; “O tempo cura tudo”; “É a vida, todos vamos morrer”; “Olha, que há pessoas que estão pior”; “Você é jovem, pode se casar novamente/ter outro filho”. Essas frases podem ser inadequadas de imediato e machucar ainda mais.


E
ntretanto, podemos dizer “Sinto muito pelo que está passando”; “Nem posso imaginar o que você está passando”; “Você é uma pessoa muito importante pra mim, pode contar comigo”; “Quer falar? Posso te ouvir”. Lembrando que a pessoa em luto se questiona sobre a capacidade do cuidador em o ajudar verdadeiramente: “Será que posso confiar em você? Será que realmente vai me entender?”

Devemos cuidar para não minimizar as nossas perdas cotidianas. Sofrimento não deve ser comparado. Cada qual sabe o quanto aquela perda lhe faz falta. Talvez, buscar formas de lidar com nossas perdas nesse tempo de pandemia seja o mais interessante, pois todos já passamos ou passaremos por algum tipo de perda significativa em algum momento da vida. As pessoas podem procurar ajuda em grupos de apoio ao luto; na conversa amiga e confiável; como também, buscar ajuda de um profissional de saúde, especialmente, um psicólogo. As pessoas precisam falar sobre o que estão enfrentando ao vivenciar suas perdas, para que possam seguir no curso do seu processo adaptativo do luto.

Referências Bibliográficas:

BARICCA, A. M. Viver e Conviver com HIV/AIDS, In: Morte e existência humana: caminhos de cuidados e possibilidades de intervenção. Coord.: Kovács, M. J. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Cap. I

ESSLINGER, I. De quem é a vida, afinal? Cuidando dos cuidadores (profissionais e familiares) e do paciente no contexto hospitalar. In: Morte e existência humana: caminhos de cuidados e possibilidades de intervenção. Coord.: Kovács, M. J. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Cap. IX 

07 setembro 2020

O IMPACTO DO SUICÍDIO NA FAMÍLIA - Cristiane de Carvalho Neves


 A
tuo como psicóloga exclusivamente na clínica, e especialmente no enfoque sistêmico, nas perdas e no luto e em experiências traumáticas. Entretanto, independente da abordagem, o meu maior propósito quando recebo uma pessoa no consultório, é construir um vínculo afetivo e de escuta respeitosa com o paciente. 

Trabalhando com famílias, pessoas enlutadas ou traumatizadas, acabamos por nos aproximar de situações relacionadas ao suicídio. São pessoas que vem por indicação do psiquiatra ou trazido por algum familiar. Outra situação que também me acontece muito é o atendimento de uma pessoa que me traz queixas diversas, porém, com risco velado para o suicídio. O estudo e trabalho sobre os processos do enlutamento me treinou a uma escuta atenta a essa questão do suicídio; uma escuta que me possibilitou captar essa possibilidade e abrir porta para que a pessoa fale sobre isso. Assim, nos conduzimos ao primordial sobre a atenção aos aspectos do suicídio: a importância de poder falar sobre os pensamentos suicidas como prevenção.

É difícil explicar por que algumas pessoas escolhem o suicídio, enquanto outras, em situação similar ou pior, não o fazem. Se conseguirmos olhar para ato suicida como algo mais complexo do que imaginamos, poderemos compreender e ajudar melhor a quem está precisando dessa atenção. Acreditamos que a nossa principal tarefa como profissionais, e principalmente, como pessoas que temos interesse pela vida das outras pessoas, é fazer a prevenção e posvenção ao suicídio. 

A Prevenção se faz por meio da escuta ativa, da capacidade de se colocar no lugar do outro e de adentrar no mundo dele. E, para tal, não basta ser bom de coração, precisamos conhecer alguns aspectos que estão implicados na complexidade do comportamento suicida. Entre esses aspectos, temos os lutos não elaborados ou mal resolvidos; a precariedade afetiva nas relações familiares; o acúmulo de experiências de fracasso; um histórico de transtornos psíquicos; e, o mais agravante, a depressão, muitas vezes, não tratada por não ser admitida ou compreendida pela própria família. 

Portanto, a Prevenção se refere ao que podemos fazer para evitar o suicídio. Enquanto, a Posvenção é um conjunto de intervenções para evitar que uma nova tentativa de suicídio aconteça. Na Posvenção criamos estratégias de cuidados com o enlutado ou sobrevivente por suicídio, a fim de evitar o luto complicado e a repetição do ato.

As pesquisas e a nossa prática clínica apontam que a maioria dos que cometeram suicídio, de alguma maneira, se comunicou com familiares, médicos ou amigos, antes de atentar contra a própria vida. Também, sabemos que existem casos de pessoas, especialmente, as crianças, os adolescentes e os idosos, que agiram com impulsividade, imaturidade ou esconderam suas intenções, e privaram-se de qualquer ajuda, de tratamento e prevenção. De qualquer forma, sabemos que o suicídio ainda é um tema tabu na nossa sociedade, devido à nossa dificuldade em acolher a dor expressada ou manifestada. Geralmente, sentimos impotentes e impactados, até por conta dos nossos preconceitos. E como um familiar, a situação ainda é pior, devido aos sentimentos de culpa e medo que nos paralisam.

O suicídio ou a sua tentativa, exerce na família um impacto que se manifesta de diferentes formas, a depender da maneira como a família irá enfrentar essa situação. Por exemplo, a forma como a família lida com situações traumáticas, vai determinar o processo de luto ou a sua reorganização em caso de tentativa frustrada do suicídio.

Por falta de conhecimento, podemos observar que há muito preconceito na sociedade sobre o que é o suicídio e, também, vemos isso acontecendo na família, impedindo uma comunicação aberta entre os membros da família sobre o que se passa com eles. Sempre que se fala em suicídio ou em tentativa de suicídio, a tendência é ignorar ou reprimir, ao mesmo tempo em que se quer ajudar e acolher. Por isso, o contato fica mais difícil e, muitas vezes, não acontece.

A pessoa que tenta o suicídio precisa de alguém para confiar, e o resgate ou a criação do vínculo é de extrema importância na família, podendo o aprendizado começar por meio da terapia com o vínculo terapêutico ou com o auxílio do terapeuta no sistema familiar. As famílias devem ser incluídas no tratamento de pessoas com ideação e principalmente com tentativa de suicídio. Às vezes, a família se sente muito culpada ou pode pensar que, se for atendida, roubará tempo do atendimento àquele que, na sua concepção, mais necessita. 

Entretanto, com a participação da família no processo psicoterapêutico da pessoa com tentativa de suicídio, percebo, em alguns casos, a preocupação ou medo dos pais ou cuidadores em se “descobrirem” responsáveis por aquele comportamento do filho e não conseguirem carregar esse fardo. Porém, a ideia é poder trabalhar a coparticipação, assim como, a corresponsabilidade pela dinâmica relacional daquele sistema familiar, ajudando-os a encontrar uma nova forma de lidarem com as situações difíceis, juntos.

A pessoa quando chega ao ponto de atentar contra a própria vida, pode estar convivendo há bastante tempo com o sofrimento. É comum que o processo de comunicação entre os membros da família, principalmente com alguém que tentou o suicídio, fique frágil e truncado, não permitindo um bom acolhimento da pessoa, dificultando um trabalho preventivo. A prevenção nesses casos é muito necessária para que não haja uma nova tentativa. Cabe lembrarmos que é na crise que se ressignificam os papéis e se torna uma possibilidade de desenvolver a resiliência permitindo à família superar a desestruturação e se reorganizar a partir dela.

Quando alguém na família tenta suicídio ou quando morre por suicídio e isso não é conversado, criando um segredo, criam-se buracos dentro do sistema e acabam sendo preenchidos com inadequações, além de que vai sendo repassado de geração a geração, criando repetições de padrões anteriores. É desejável que o diálogo seja uma constante no sistema familiar, onde todos se sintam pertencentes e acolhidos em suas diferenças. Essa característica familiar será importante para que cada um na família se sinta respeitado na sua forma de expressar o seu sofrimento do luto.

O alerta sobre os cuidados com as pessoas que sofrem não deve se restringir apenas no mês de setembro, mas sim, durante o ano todo. Vamos cuidar da nossa família – fazendo o nosso melhor, ofertando atenção, carinho e respeito – e da nossa espiritualidade, nos conectando com a força maior que vem de Deus. É disso que todos nós precisamos.

 

Por Cristiane de Carvalho Neves

Psicóloga Clín. Esp. em Atend. Sistêmico Familiar e Luto


20 julho 2020

Fenômeno psicológico da dependência - Ricardo Gandra Di Bernardi


Somos Espíritos encarnados, trazemos em nosso inconsciente grande manancial de energias construídas ao longo dos milênios, isto é, de inúmeras reencarnações. Nossas mentes produzem ondas, geram campos de força e tem facilidade de sintonizar com outras mentes que vibram na mesma faixa que a nossa, mas, quanto maior a fragilidade ou imaturidade espiritual mais buscamos, instintivamente, apoio em outras mentes.
São sobejamente conhecidos os sintomas e comportamentos das pessoas que se acham dependentes de substâncias químicas e podemos fazer uma analogia com a dependência psíquica. Indivíduos, encarnados ou desencarnados, quando apresentam desequilíbrios vibratórios decorrentes de mente enferma ou debilitada, podem se tornar dependentes de outras pessoas ou até mesmo de ambientes, esses Espíritos encontram-se em dependência psíquica.
 O dependente químico tem sintomas iniciais de euforia e aparente bem-estar, mas, com o tempo, os malefícios começam a aparecer e cresce a dependência ao produto ou droga. Na fase de viciação, há diversos prejuízos, também para as pessoas de convivência diária, pois a ausência da substância química desenvolve comportamentos de agressividade, agitação e outros, ocasionando sérios problemas no meio familiar e social que convivem.
A dependência mental, como fragilidade espiritual, segue o mesmo raciocínio da dependência química. Conversas picantes, anedotas chulas e atitudes depreciativas tidas como divertidas, quando relacionadas a determinados grupos, etnias, lugares ou tipos de pessoas, são exemplos que poderão trazer sensações de prazer mórbido, e a repetição dessa conduta, determina uma dependência mental e viciação à padrões de pensamento de baixo teor vibratório.
Há uma sintonia do indivíduo com Espíritos desencarnados que se comprazem com futilidades, além do indivíduo sintonizar com ondas mentais de pessoas encarnadas que irradiam pensamentos do mesmo padrão.  À medida que o Espírito (encarnado ou desencarnado) sintoniza com mentes desse jaez, passa a se alimentar de energia vital ou outras formas de energia provindas de mentes enfermas e, tal qual um dependente químico, passa a sentir falta da “alimentação” que o “nutre”. Sente-se carente da presença ou convívio de outras mentes enfermas com características semelhantes; já está, agora, na fase de dependência psíquica e se for afastado ou impedido do convívio com seus semelhantes - por orientação terapêutica ou espiritual -, pode apresentar agitação e agressividade exigindo cuidados especiais. Assim, observa-se que os sinais e sintomas do dependente psíquico, ao se ver privado de sua fonte de energias enfermas, se assemelham muito aos do dependente químico.
Existe, também, a dependência mental a uma pessoa, um líder por exemplo. O indivíduo sente um desejo incontido de estar próximo daquela pessoa, ser tocado, ouvir sem analisar, enfim, torna-se emocional e irracionalmente preso. Há inúmeras modalidades de dependência psíquica, por exemplo, necessidade exacerbada de fazer compras, prender-se a seriados na TV, internet, telefone celular, estádios de futebol, bares e outras, desde que essas atividades impeçam a pessoa de tornar-se mais produtiva, ampliando seus conhecimentos e valores da alma.
Quando esse tipo de distúrbio não é diagnosticado e tratado corretamente, o Espírito ao desencarnar leva consigo essa dependência e permanece atraído aos locais, atividades e pessoas às quais se encontra preso psiquicamente.
A leitura de bons livros, música elevada, filmes e documentários que tragam conhecimentos e estímulos aos bons princípios da ética são atividades que nos afastam das dependências psíquicas prejudiciais ao nosso Espírito. Buscarmos ambientes de harmonia e conversas saudáveis criam uma psicosfera favorável ao equilíbrio e refletem em nós a vontade do crescimento espiritual.
São preferências, desejos e vontades que determinam o tipo de energia que geramos e, principalmente, absorveremos e sentiremos falta quando estivermos privados dela. Vibremos no amor, alegria, tranquilidade, paz, estudo e trabalho que a atmosfera mental de nossos Espírito se enriquecerá com convivências construtivas, sem dependências psíquicas.    
Todo costume, mesmo sendo elevado e construtivo deve libertar com responsabilidade e nunca prender.   

  Bibliografia PALMEIRA, José A. M./ BORTOLETTO, Ivaneide./ PESCHEBÉA, Marisa. A Dança das Energias, Cap. 3, 3ª Edição, Curitiba, Ed. Centro Espírita Luz e Caridade, 2016.  
KARDEC, Allan. O Livro dos médiuns. Tradução de Herculano Pires São Paulo, Ed. LAKE, 1973. 
XAVIER, Francisco Cândido/Espírito André Luiz.  Mecanismos da mediunidade. 8. Ed. Rio de Janeiro, FEB, 1959.  Evolução em dois mundos. 9. Ed. Rio de Janeiro, FEB, 1959. 

Dr. Ricardo di Bernardi é fundador de ex-presidente da AME Santa Catarina, médico e conferencista espírita internacional.