12 fevereiro 2009

APOMETRIA É ESPIRITISMO? Vitor Ronaldo

ESCLARECIMENTOS À LUZ DOS ENSINAMENTOS KARDECIANOS
Vitor Ronaldo Costa




“Que faz a moderna ciência espírita? Reúne em corpo de doutrina o que estava esparso; explica, com os termos próprios, o que só era dito em linguagem alegórica; poda o que a superstição e a ignorância engendram, para só deixar o que é real e positivo. Esse o seu papel”. (1)

Certa feita, alguém nos interpelou: “— Apometria é Espiritismo?” E eu retruquei: “— Depende do ângulo pelo qual se analise o assunto. Em nosso modo de ver, a Apometria enquadra-se perfeitamente no elenco de atividades espíritas.” Semelhante resposta tem a sua razão de ser, e aqui nos propomos a dirimir qualquer controvérsia a respeito.
O Espiritismo, por definição, é uma doutrina abrangente e evolutiva; portanto, situação bem diversa das demais religiões, quase sempre eivadas de dogmas, práticas exteriores e obediência cega aos pontífices infalíveis.
O termo doutrina pode ser definido como o conjunto de princípios que servem de base a um sistema religioso, político, filosófico, científico, entre outros.
A seu turno a proposta kardeciana assevera: O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que dimanam dessas mesmas relações. Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. (2)
Muito sabiamente ao conceituar o Espiritismo, Allan Kardec logo de início o rotulou de ciência de observação, qualificação que nos autoriza a lançar mãos de artifícios experimentais, mesmo que “sui generis”, com o objetivo de devassar a realidade espiritual que nos cerca e nos interpenetra. Essa é a razão pela qual o codificador nos alerta: A Ciência propriamente dita é, pois, como ciência, incompetente para se pronunciar na questão do Espiritismo: não tem que se ocupar com isso e qualquer que seja o seu julgamento, favorável ou não, nenhum peso poderá ter. (3)
A ciência acadêmica tem por escopo a investigação dos fenômenos materiais, aqueles que se manifestam nos limites do nosso universo matemático. Todavia, a ciência espírita, ao se utilizar do instrumental mediúnico e das propriedades do magnetismo humano, revela-nos a realidade da dimensão extra-física e descortina, portanto, novos horizontes para a medicina integral. Por isso, admitimos que a explanação aqui feita se reveste de uma certa relevância, caso queiramos entender o significado de espiritismo-ciência, com vistas à inserção em seu contexto experimental do capítulo referente à Apometria.
Por sua vez, a Apometria nada mais é do que um conjunto de técnicas magnéticas aplicadas sobre o médium afeito às tarefas desobsessivas, com a finalidade de induzir o sonambulismo artificial, de tal modo, que ele possa interagir mais facilmente com os desencarnados, reconhecer os mentores, localizar os obsessores, vislumbrar as patologias complexas na própria tessitura perispirítica dos enfermos e identificar os pormenores das paisagens astrais.
Diríamos, então, que a Apometria, a exemplo da mediunidade, do passe magnético e de tantas outras expressões de reconhecida utilidade em nosso movimento, inclui-se no rol das atividades espíritas e dessa maneira deve ser reconhecida. Aliás, a bem da verdade, as inúmeras tarefas exercidas nas casas espíritas se multiplicam de acordo com os objetivos pretendidos pelas instituições, mas só devem merecer o título de atividade espírita se subordinadas aos critérios éticos que alicerçam a doutrina, inferência óbvia, impossível de ser refutada
Ora, ao elaborar a sua conceituação, Kardec não especifica o que deve ou não ser considerado Espiritismo, pois a complexidade científica da doutrina e a multiplicidade de tarefas enobrecidas agregadas ao seu contexto, de acordo com a Lei do Progresso, ampliam-se constantemente. Contudo, um pormenor permanece soberano: o aspecto ético das citadas atividades. O Espiritismo será aquilo que fizermos dele. E a sua excelência como doutrina libertadora dependerá única e exclusivamente do bom senso e da honestidade de propósitos de seus profitentes.
Desse modo, mais uma vez, gostaríamos de bem frisar as particularidades que se devem destacar no conceito kardeciano de Espiritismo. O primeiro deles envolve a prática experimental implícita na própria atividade mediúnica. Por se tratar de ciência de observação, o Espiritismo se vale de métodos e de técnicas experimentais próprias, que variam de acordo com as pretensões e objetivos a serem alcançados pelos pesquisadores. O segundo aspecto diz respeito ao componente filosófico-moral derivado dessas mesmas práticas, e, aí, incluem-se as soberanas diretrizes evangélicas.
Pois bem. O exercício disciplinado da mediunidade, a transmissão de bioenergia através das mãos, as preces e irradiações à distância, a água magnetizada e a aplicação das técnicas apométricas devem ser entendidos na conta de atividades espíritas, caso se efetivem em plena consonância com os postulados doutrinários: gratuidade, vontade de ajudar os semelhantes e interação afetiva com os bons Espíritos. Eis aí a chave da questão. Assim, admite-se que tais práticas, por si sós, não se caracterizam como espíritas, pois algumas são de uso corriqueiro em outras religiões, a exemplo do exercício mediúnico e da imposição das mãos. Contudo, se dispensadas evangelicamente em instituições espíritas, tornam-se consagradas e devidamente incluídas no rol das atividades espíritas. Por extensão de raciocínio, aceitamos a existência da música, do teatro, do cinema e da literatura espíritas, caso essas expressões culturais enalteçam os aspectos positivos da vida e contribuam para a elevação da dignidade humana. Isso, para que se tenha uma idéia de quantas atividades podem ser exercitadas em nosso âmbito doutrinário, com o objetivo de levar o estímulo renovador e o conhecimento maior às criaturas abatidas que nos batem as portas.
Cremos que, agora, após essas breves digressões, nos sintamos aptos a responder na íntegra a pergunta inicialmente formulada. Apometria é Espiritismo? “A nossa experiência no assunto aliada aos ideais de fidelidade à causa nos mostram tratar-se de excelente atividade espírita, desde que praticada por dirigentes capacitados, médiuns devidamente esclarecidos e dispensada gratuitamente em ambiente espírita, em prol dos sofredores de ambos os lados da vida.” Concluindo diríamos: Atividades Espíritas são todas aquelas que envolvem o espírito com o amor fraterno e Universal para a transformação do homem e da humanidade.

Dr. Vitor Ronaldo é autor de “Desobsessão e Apometria – Análise à Luz da Ciência Espírita”, recentemente lançada pela Editora O Clarim. Trata-se de uma proposta com enfoque absolutamente doutrinário, destinada aos espíritas estudiosos, especialmente, aqueles que se dedicam às lides desobsessivas. O assunto é tratado de uma forma simples, objetiva, sem misticismos, crendices nem fantasias inaceitáveis.

Bibliografia:
(1) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Conclusão, item VI. 13ª ed. de bolso. Brasília-DF, FEB, 2007. pág. 518
(2) ___________. O que é o Espiritismo. Preâmbulo. 15ª ed. , Rio, FEB, 1973.
(3) ___________. O Livro dos Espíritos. Introdução, item VII. 13ª ed. de bolso. Brasília-DF, FEB, 2007. pág. 35

03 fevereiro 2009

Um médico no Além – Dr. Luiz Paiva


  amado chicoEm 1943, aos 33 anos de idade, o matuto Chico Xavier, da obscura cidadezinha de Pedro Leopoldo-MG, e tido como intermediário dos espíritos, começa a escrever Nosso Lar, o primeiro de uma série de livros narrando as experiências post-mortem de um médico que usa o pseudônimo de André Luiz, segundo o próprio para não ferir as suscetibilidades dos familiares que deixara por aqui.
Nos 16 livros que se seguiriam, temas complexos de Anatomia, Fisiologia, Fisiopatologia e outros relativos a diversas especialidades médicas são abordados sob a ótica do médico desencarnado, que não se contenta em antecipar novos avanços nas mais diversas áreas da Medicina, mas também inaugura um novo paradigma dentro das ciências médicas, onde a mente, ou psique, ou espírito tem lugar diferenciado.  

O mais espantoso é que tudo que disse há mais de 60 anos, hoje se cumpre ou caminha para ser realidade. As novas descobertas na psiconeuroimunoendocrinologia, nos conhecimentos sobre a neuroplasticidade, nos intrincados mecanismos moduladores dos neurotransmissores, da própria neuropsicologia e até da psicoterapia cognitiva não vêm confirmar a primazia desta entidade virtual chamada psique ou alma sobre as estruturas cerebrais normais?  

O Dr. André Luiz, no prefácio desta sua primeira obra, Nosso Lar, teceu considerações sobre a sua postura de homem do mundo, segundo  consta, médico e cientista de renome, mas que como nós outros pouco se abalava diante das grandes questões da vida e da morte. Pelas suas palavras: “A filosofia do imediatismo, porém, absorvera-me. A existência terrestre que a morte transformara, não fora assinalada de lances diferentes da craveira comum.” 

Empedernidos materialistas ou indefinidos agnósticos têm rejeitado tais revelações, tidas à conta de alucinações ou delírios do médium. Ora, o simples fato deste abordar proficientemente temas médicos intrincados, inobstante a sua educação de curso primário, já é por si um fenômeno que mereceria, no mínimo, ser estudado. Se tivesse nascido na Índia, o Chico seria considerado um Mestre, e teria sido objeto de consideração e estudo por filósofos e cientistas do mundo inteiro. 

Ora, muito mais fantásticas e maravilhosas, além das provas de sobrevivência da alma, cujo estudo científico criterioso já se faz há mais de 150 anos, são as novas descobertas trazidas pela Física Quântica ou pela Astrofísica. Estas, então, beiram o delírio, e seriam anatematizadas pelos dogmas científicos dos séculos XIX e XX.  

Sim, permitindo-nos uma pequena digressão, vem a Física Quântica nos dizer que o que vemos e pegamos são apenas ilusões criadas pelos campos de força das micropartículas e que estas também podem se comportar como ondas; que os elétrons têm a probabilidade de estarem em dois lugares ao mesmo tempo e que o modelo planetário do átomo já estaria superado; que o que vemos como real e material é tudo na verdade espaço vazio, e caso o tirássemos dentre as moléculas do maior edifício do mundo, este ficaria do tamanho de um alfinete, mas com o mesmo peso; que a matéria não passa de uma forma de organização de energia, intercambiável com esta. Conquanto às vezes desconcertante para os nossos paradigmas, a Mecânica Quântica é considerada a teoria científica mais abrangente, precisa e útil de todos os tempos.  

Quem ousaria, hoje, definir o que seja a matéria? Os astrofísicos nos dizem agora que a matéria que vemos no Universo sob a forma de estrelas, galáxias, buracos negros etc., e que julgávamos ser tudo, corresponde a apenas uma parte ínfima da matéria existente (0,4% de estrelas e 3,6% de gás intergaláctico), contra 23% de matéria escura e 73% de energia escura, sobre as quais nada se sabe, exceto a imensa força gravitacional que exercem, estruturando as galáxias e as afastando entre si, expandindo o Universo. Isso não corresponde a afirmações ou teorias abstrusas, mas a deduções matemáticas de fenômenos observáveis.  

Depois disso tudo, é moleza acreditar em Deus, na sobrevivência da alma à morte do corpo e no mundo espiritual. A matéria mais sutil é a mais real e vivemos num Universo de insuspeitáveis forças e energias, que escapam à extrema pobreza dos nossos sentidos e por que não, também do nosso apoucado entendimento.  E ainda nos arrogamos doutos e sábios. Alguns até olham os “crédulos” com indisfarçável desprezo, tratando-os com condescendência e ironia. Faz parte da pose de douto e sábio ser incrédulo. Combina e faz charme.  

A propósito, para André Luiz o choque da passagem para outra realidade, tal como pode acontecer a qualquer momento, a qualquer um, abriu-lhe os olhos para realidades que não cogitara ou preferira ignorar. E não foi sem sofrimento que a consciência lhe cobrou uma reavaliação de valores e atitudes assumidas no mundo: “Em momento algum o problema religioso surgiu tão profundo aos meus olhos. Os princípios puramente filosóficos, políticos e científicos, figuravam-me agora extremamente secundários para a vida humana. (...) Verificava que alguma coisa permanece acima de toda cogitação meramente intelectual. Esse algo é a fé, manifestação divina ao homem.”  

Há que se concluir que por fé não queria exprimir a simples adesão a um segmento religioso, mas a consideração da transcendência de nossas vidas, com objetivos mais elevados que a simples luta pela sobrevivência. Nesta equação, a fé na existência de Deus e de um fio condutor em nossos destinos que nos aponta claramente para a evolução e o aperfeiçoamento constante do espírito, faz toda a diferença. Muda-se o referencial dos valores e a ordem das prioridades.
Em toda a sua obra, André Luiz mostra-nos, sobretudo, a realidade transcendental de que somos espíritos imortais envergando corpos físicos, com estes interagindo, influenciando-os e por eles sendo influenciados; para que com esta consciência não passemos para o outro lado assim como ele, que desabafa: “Enfim, como flor de estufa, não suportava agora o clima das realidades eternas”.  

Tal como o nosso escritor, vivemos o dia-a-dia na terra, cercados de facilidades ou de dores, preocupados com o amanhã de nossas mesquinhas necessidades, mas como se fôssemos assim viver pela eternidade. A brevidade da vida não nos toca.
Se nós somos apenas um subproduto da matéria que milagrosamente pensa ou se somos algo transcendente e consciente que, pelo contrário, anima a matéria, são conjecturas que não costumam tirar-nos o sono. No entanto, a cada minuto, a cada dia, mais nos aproximamos do confronto com a verdade final.