Essas oportunidades são relativas às nossas necessidades mais prementes. Assim, poderíamos divagar que algumas condições físicas poderiam estar ligadas a determinadas situações de nosso passado, tanto na atual quanto em outras encarnações.
A endometriose não é conseqüência de nenhum mau hábito, nem de alguma negligência. Sua causa física é ignorada, existem apenas especulações.
Podem existir fatores genéticos predisponentes à transformação metaplásica de um epitélio de revestimento maduro em um epitélio glandular endometrial distópico. Outra hipótese é a ocorrência de implantes de epitélio endometrial no peritônio pélvico em função de refluxo do sangue menstrual através das tubas uterinas. Tais possibilidades envolvem, certamente, a concomitância de distúrbios imunológicos.
Portanto, diferentemente de um enfisema pulmonar que se relaciona ao hábito do tabagismo, não encontramos explicações claras, em relação à endometriose, em termos de maus hábitos ou atitudes inapropriadas perante a vida atual.
As possibilidades etiológicas dessa doença permitem a identificação de algum grau de acaso, na distribuição dos indivíduos suscetíveis em meio à população geral.
Para o aparecimento das lesões endometrióticas seria, portanto, necessária a combinação de algumas variáveis. E ainda, mesmo entre as portadoras dos focos de endometriose existe a peculiaridade da desproporção entre os sintomas e os graus de severidade de cada caso. Também o padrão de resposta terapêutica é irregular. Seria tudo acaso?
Do ponto de vista filosófico não cremos no acaso. Assim, se raciocinarmos conforme os princípios da Doutrina Espírita: É possível que uma doença insidiosa, dolorosa, que prejudica a fertilidade, ofereça à paciente um estímulo para verificar, em seu íntimo, o valor que atribui à maternidade e à vida embrionária. Um estímulo para verificar a sua capacidade de tolerância à dor e à frustração. Ela diante desse desafio provavelmente reavaliará, também, suas atitudes como filha e esposa...
A visão generalizada, porém, simplista de que qualquer mal na presente encarnação é uma punição por erros em vidas passadas, pode ter sido útil em algum período do desenvolvimento intelectual e moral da sociedade humana.
Entretanto, se hoje já vislumbramos, ainda que parcialmente, a superioridade e a perfeição das Leis divinas, sabemos que todas as experiências encarnatórias visam o nosso progresso, muito mais do que a nossa repreensão. A idéia do sofrimento como purificador é comum, mas inexata, pois o que purifica é o amor, que pode nascer tanto de momentos de alegria quanto de dor.
Porque o amor cobrirá a multidão de pecados.
1 Pedro 4:8
Certamente, o tratamento médico permitirá a melhora da endometriose e evitará seqüelas. O período envolvido com este processo será, também, muito bem aproveitado para a necessária evolução espiritual caso haja uma atitude positiva diante da doença. Esperança sem ilusão. Resignação sem desistência. Luta sem revolta.
Posso assegurar que a maior lição que tenho aprendido durante o acompanhamento de minhas pacientes que enfrentam problemas de fertilidade, inclusive envolvendo endometriose, é que, uma vez que aprendem a amar além das fronteiras restritas dos seus laços de sangue, ocorrem surpreendentes melhoras nos quadros, mesmos naqueles que antes eram considerados como irreversíveis.
Observem vocês mesmos, não é muito comum que uma mulher que labutou com a infertilidade, por longos anos, imediatamente após a adoção de uma criança seja surpreendida por uma gravidez espontânea e inesperada?
Parece que o amor que passa a preencher sua alma, tingindo-a de cor de rosa, atua terapeuticamente por mecanismos desconhecidos, talvez e provavelmente, transcendentes...
Giselle