22 março 2020

O Luto no Envelhecimento - Cristiane C Neves


O envelhecimento é um processo biopsicossocial que começa desde que nascemos. Preciso crescer para dar espaço ao irmão que está chegando na família. Para ir para a escola, também preciso crescer para dar conta de vivenciar essa situação e lidar com tanta novidade. Crescer nos faz envelhecer lentamente. A possibilidade de vivermos por muitos anos nos permite contar com experiências de vida, que pode nos permitir lidar melhor com situações adversas, além de poder contar interessantes histórias para os nossos descendentes. 
Entretanto, o envelhecimento após a fase adulta, é uma das mais difíceis tarefas do desenvolvimento humano, pois nos faz ter que enfrentar as limitações físicas e a morte. Além do mais, envelhecer na nossa sociedade moderna em que se cultiva o ser jovem, se torna uma tarefa desafiadora.
Com qual idade você vai se sentir velho?  Pode ser quando sentir que não tem mais a energia e disposição de quando era mais jovem; quando perceber mais acentuadas as marcas de expressão no seu rosto; quando o assunto sobre doenças começa a tomar conta das conversas com os amigos; quando os seus compromissos com os horários estiverem sendo definidos pelas medicações que precisa tomar; quando as perdas por mortes de parentes e amigos começam a ter uma frequência maior.
Essas são algumas das inúmeras perdas que com o passar dos anos vamos adquirindo. São perdas significativas que a longa vida nos oferece, sem que tenhamos o direito de recusa.
Todas as perdas concretas e simbólicas dessa fase de desenvolvimento evolutivo requerem o enlutamento, ou seja, um processo de luto. Para tal, a perda precisa ser reconhecida pela própria pessoa e pelas pessoas do seu convívio familiar e social. O luto é um processo psíquico na elaboração de qualquer tipo de perda significativa. Elaborar o luto é imprescindível como prevenção ao adoecimento físico e, especialmente psíquico, como a ansiedade, a depressão e o suicídio. O cuidado com o processo de luto dos idosos é imprescindível, pois as estatísticas apontam um alto índice de suicídio na velhice.
O idoso pode ter dificuldades para vivenciar o processo de luto, devido a inabilidade em falar sobre a dor relacionada à perda. Além do mais, ele precisa de tempo para se reorganizar emocionalmente diante uma perda. O tratamento respeitoso diante as necessidades do idoso favorecem a elaboração dessas perdas que ele estiver vivenciando e na qualidade de vida que ele merece.
O idoso precisa ter oportunidade de realizar novas atividades para renovar a capacidade de sonhar, realizar e reconhecer que existe possibilidade de viver bem acreditando no futuro. 

Cristiane C. Neves é psicóloga, especializada em luto e coordena o grupo terapêutico Vivenciando o luto na Comunidade Espírita Ramatís.

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